Connect with us

Por que o clima de Itaipava e do Centro de Petrópolis são tão diferentes?

Cidade

Por que o clima de Itaipava e do Centro de Petrópolis são tão diferentes?

Fernanda Gonzalez, professora de Engenharia Ambiental e Civil da UCP, explica os fatores que contribuem para as diferenças nas temperaturas

Quem vive ou frequenta Petrópolis sabe bem: basta sair do Centro da cidade em direção a Itaipava para sentir a mudança no clima. Enquanto o Centro costuma registrar temperaturas mais amenas e maior umidade, Itaipava — situada em uma região mais aberta e de menor altitude — apresenta dias mais quentes e secos, especialmente no verão. Mas afinal, o que explica essa diferença tão perceptível em uma mesma cidade?

Fotos: Arquivo Sou Petrópolis – Itaipava / Reprodução Instagram @xykonx – Centro de Petrópolis

A resposta está diretamente ligada à topografia e a outros fatores naturais que moldam o microclima de cada região. Para entender melhor essa variação, conversamos com a professora de Engenharia Ambiental e Civil da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Fernanda Gonzalez, que explica como relevo, altitude, vegetação e urbanização influenciam no clima petropolitano.

Foto: divulgação / Fernanda Gonzalez – professora de Engenharia Ambiental e Civil da UCP

Encostas

Segundo a engenheira, Petrópolis está situada sobre as encostas de uma cadeia montanhosa que tem seu trecho mais elevado no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Os bairros localizados na porção sul do município — como Quitandinha, Independência, Bingen, Alto da Serra e Centro — ficam expostos diretamente à umidade que vem do oceano.

“As montanhas funcionam como uma barreira natural, impedindo que parte dessa umidade avance até os bairros mais ao norte, como Itaipava, Cascatinha, Corrêas e Nogueira”, explica.

Foto: reprodução topographic-map.com,2025

Correntes atmosféricas e clima tropical de altitude

Essa característica faz com que a umidade que chega pelas correntes atmosféricas se acumule sobre a porção sul, retida pelas elevações, resultando em altos índices de umidade, temperaturas mais baixas e maior frequência de chuvas, além da formação de nuvens muito próximas do solo — fenômeno que os petropolitanos chamam de ruço.

“Já em Itaipava, o cenário é outro. Clima mais seco, temperaturas mais elevadas e menor frequência de chuva. Essa diferença é resultado do que se conhece como chuva orográfica, provocada pela interação entre relevo e umidade”.

Fernanda destaca que a altitude também tem papel determinante nesse contraste climático.

“O clima de Petrópolis é classificado como tropical de altitude. Isso significa que, embora haja alta umidade por causa da proximidade com o oceano, as temperaturas são mais baixas do que em outras áreas igualmente próximas ao mar”, explica.

Foto: reprodução O Globo, 2025

Outros fatores

Mas não é apenas o relevo que faz diferença. Fatores como a vegetação e o grau de urbanização também interferem diretamente nas condições climáticas locais.

“A presença de cobertura vegetal mantém o ar mais úmido — pela evapotranspiração — e ajuda a regular a temperatura. Árvores proporcionam sombra, e o solo natural absorve menos calor do que o asfalto e o concreto”, comenta. Já nas áreas mais urbanizadas, ocorre o efeito conhecido como ‘ilha de calor’, causado pela retirada da vegetação, emissão de poluentes e alteração da circulação do ar pelas construções.

Itaipava tem um microclima próprio?

Embora muitos moradores considerem que Itaipava possua um microclima próprio, Fernanda esclarece que o termo não se aplica exatamente a essa situação.

“O microclima é um conceito usado para áreas muito pequenas que apresentam características climáticas bem distintas do entorno — como o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. No caso de Petrópolis, o que ocorre é uma diferença climática regional dentro do próprio município”, explica.

A professora detalha que a porção sul, onde estão o Centro, Quitandinha e Alto da Serra, tem maior pluviosidade ao longo do ano, umidade mais alta, temperaturas mais baixas e verões mais amenos, além de invernos rigorosos. Já a porção norte, onde estão Itaipava, Corrêas e Nogueira, apresenta menor índice de chuva, clima mais seco, invernos brandos e verões mais quentes.

“Essas diferenças também trazem impactos ambientais e urbanísticos. Na parte sul, o clima mais úmido e frio favorece o aparecimento de mofo nas edificações, exigindo construções que priorizem boa insolação e ventilação. Já na região norte, o clima seco e quente pede soluções de sombra, ventilação e uso de materiais com menor absorção de calor, além de áreas verdes, telhados e paredes vegetais”, orienta.

Foto: arquivo

E haja saúde

De acordo com a engenheira, as condições climáticas também influenciam na saúde e o bem-estar da população.

“O clima frio e úmido pode favorecer rinites e viroses respiratórias, enquanto o ar seco e as ondas de calor da região norte são mais perigosos para pessoas com doenças respiratórias, como asma e bronquite”, alerta.

Apesar dos contrastes, Fernanda lembra que cada região tem suas vantagens. Itaipava, por exemplo, tem mais dias de sol e atmosfera mais seca.

“Isso favorece o desempenho de sistemas de energia e aquecimento solar. Já o Centro tem temperaturas mais amenas, o que contribui para um maior conforto térmico natural”, conclui.

Foto: arquivo

Veja também:

Continue Reading

Você também vai gostar

Subir