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Petropolitanas estão tendo filhos mais tarde; moradora conta sobre a decisão de ser mãe aos 40

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Petropolitanas estão tendo filhos mais tarde; moradora conta sobre a decisão de ser mãe aos 40

Dra. Françoise Padula, ginecologista e obstetra, esclarece mitos sobre a gravidez tardia e sobre o congelamento de óvulos

As brasileiras estão tendo menos filhos e adiando a maternidade. É o que apontam os dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a pesquisa, foram consideradas mulheres de 15 a 49 anos. A taxa de fecundidade total no Brasil — média de filhos por mulher em idade reprodutiva — caiu para 1,55 em 2022, segundo o IBGE. Esse número está abaixo da taxa de reposição populacional (2,1) desde 2010. A taxa de fecundidade em Petrópolis segue a tendência nacional de queda.

Fotos: arquivo pessoal Ana Paula Tapajóz

Maternidade mais tardia em Petrópolis

Petrópolis vem revelando mudanças importantes no perfil da maternidade. De acordo com os dados do Censo Demográfico, o número de filhos nascidos nos 12 meses anteriores à pesquisa diminuiu em quase todas as faixas etárias entre os anos de 2010 e 2022.

O grupo de mulheres entre 25 e 29 anos, que historicamente concentra o maior número de nascimentos, teve uma redução significativa: foram 757 filhos em 2010 contra 558 em 2022 — uma queda de 26,2%. Já entre as mais jovens, o recuo foi ainda mais acentuado. Na faixa de 15 a 19 anos, os nascimentos caíram de 475 para 192, representando uma diminuição de quase 60%. Entre 20 e 24 anos, a queda foi de 17,2%. Em contrapartida, a faixa etária de 40 a 44 anos foi a única que apresentou aumento no número de filhos: saltou de 140 nascimentos em 2010 para 263 em 2022 — um crescimento de 87,8%.

Parceiro ideal e estabilidade profissional

A decisão, que antes poderia ser vista como exceção, hoje reflete uma mudança significativa no comportamento da mulher brasileira — que vem conciliando seus projetos de vida com o desejo (ou não) de ter filhos. Entre os motivos, estão o foco na carreira, a busca por estabilidade emocional e financeira, e a ausência de um parceiro com quem dividir a responsabilidade pela criação dos filhos.

A petropolitana, Ana Paula Tapajóz é um desses exemplos. Aos 40 anos, ela decidiu ser mãe do pequeno Eduardo, hoje com 1 ano.

“Diversos fatores me levaram a adiar a maternidade, entre eles, não ter encontrado o companheiro ideal para esse desafio. Também quis conquistar estabilidade profissional e uma vida mais estruturada, embora saiba que tudo é transitório e pode mudar a qualquer momento”, conta

Fotos: Ana Paula Tapajóz juntamente com seu marido Eduardo Freitag Junior e o pequeno Eduardo – arquivo pessoal

A pressão de ser mãe aos 40

A decisão de adiar a maternidade ainda é cercada por julgamentos e cobranças, especialmente para mulheres que se aproximam dos 40 anos. Ana Paula conta que também sentiu essa pressão, tanto da sociedade quanto da própria família. Também seguida da pressão externa, que enfrentou com o peso das questões biológicas.

“Acho que toda mulher perto dos 40 que não tem filhos sente uma pressão social, e a família, de alguma forma, faz parte dessa cobrança. Sabemos que com a idade as chances de engravidar naturalmente caem muito, assim como a qualidade dos óvulos. Então é pressão por toda parte. Eu senti um pouco menos porque, aos 36 anos, fiz congelamento de óvulos”, relata.

Desafios físicos, emocionais e profissionais

Engravidar mais tarde também traz desafios reais, que vão além da expectativa. No caso de Ana Paula, o planejamento e o preparo foram fundamentais — mas não eliminaram todas as dificuldades.

“Fisicamente, a gente não engravidar tão rápido a partir do momento que decide ser mãe. Os desafios emocionais são muitos, como a preocupação constante se está tudo bem, se o bebê está saudável, se vai dar certo”, explica.

Mesmo com uma estrutura pensada para a chegada do filho, o retorno à rotina profissional após o parto exigiu adaptações.

“Eu tentei me estruturar bastante, mas o retorno depois que o bebê nasce é muito difícil. Cuido do Dudu em tempo integral, então a jornada não é mole. Muito cansativo!”

Por outro lado, ela reconhece que a maturidade ajudou a encarar a maternidade com mais preparo.

“Com certeza eu estava mais preparada, tanto financeiramente, quanto emocionalmente. Ter um filho demanda demais da gente. Tem que querer muito e estar disposta a todas as mudanças que um bebê traz para a vida dos pais. A despesa é grande — e o maior amor do mundo também”.

Fotos: arquivo pessoal Ana Paula Tapajóz

A importância do pré-natal e dos cuidados com a saúde

Durante a gestação, Ana Paula foi acompanhada de perto por profissionais de saúde. Ela desenvolveu diabetes gestacional, mas conseguiu manter tudo sob controle com disciplina.

“Tive um acompanhamento de perto, mas correu tudo bem, graças a Deus. Fiz dieta, exercício físico, e o pré-natal foi tranquilo, sem complicações.”

Congelamento de óvulos

Para outras mulheres que ainda não se sentem prontas para a maternidade, Ana aconselha o congelamento de óvulos, que a ajudou a reduzir a ansiedade em relação ao tempo biológico.

“É uma paz para a mente e para o espírito. Te dá a possibilidade de prolongar a vida fértil e engravidar mais tarde com óvulos mais jovens e saudáveis. A cobrança interna e externa não são fáceis e podem ser bem pesadas, dificultando até mesmo o processo de engravidar naturalmente. É importante também cuidar da saúde, porque decidi engravidar mais tarde e ainda ter que correr atrás do prejuízo é complicado”, conta.

Fotos: arquivo pessoal Ana Paula Tapajóz

Maternidade tardia: decisão consciente, mas que exige cuidados

De acordo com a ginecologista e obstetra Françoise Padula, especialista em reprodução humana, esse movimento está ligado principalmente à busca por estabilidade emocional e profissional.

“A maternidade tem sido adiada por questões emocionais e, principalmente, pela dificuldade em encontrar um parceiro. Muitas vezes esse parceiro surge mais tarde ou nem aparece. Por isso, cresce o número de mulheres que optam por uma maternidade solo”, afirma a médica.

Ela destaca ainda que o avanço profissional também é um fator determinante. “As mulheres querem não apenas estar no mercado de trabalho, mas conquistar cargos mais altos, investir em mestrado, doutorado e isso acaba empurrando a maternidade para mais tarde”.

A médica destaca que nesse cenário, os avanços da medicina reprodutiva não são o motivo do adiamento, mas sim um suporte importante e faz um alerta.

“A mulher não decide adiar porque existe a fertilização in vitro, por exemplo. Mas ela se sente mais confortável ao tomar essa decisão quando sabe que pode contar com recursos como o congelamento de óvulos. É importante entender que fertilização não é garantia de sucesso. Se essa escolha for tomada tardiamente, pode ser que a mulher já não tenha óvulos suficientes para viabilizar uma gestação com os próprios gametas”, explica.

Foto: arquivo pessoal Françoise Padula – ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana

Riscos e cuidados após os 35 anos

A idade ainda é um fator determinante na fertilidade e na segurança da gestação. A partir dos 35 anos, aumentam os riscos para a mulher e para o bebê.

“Há maior incidência de alterações cromossômicas no feto. Para a gestante, os riscos incluem diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e outras condições ligadas ao envelhecimento”, explica a Dra. Françoise.

Por isso, os cuidados médicos devem ser ainda mais rigorosos. Um dos exames indicados para grávidas acima dos 35 é o NIPT (Teste Pré-natal Não Invasivo), que analisa possíveis alterações genéticas do feto a partir do sangue materno.

“O NIPT tem mais de 90% de precisão e é uma ferramenta de rastreio importante, embora não elimine os riscos. A mulher deve fazer o pré-natal com atenção redobrada, mas os exames de rotina são os mesmos de qualquer gestante. O diferencial está no aumento estatístico dos riscos, que exige mais vigilância.”

Mitos sobre a gravidez tardia

Françoise destaca que ainda há muitos mitos em torno da fertilidade feminina após os 35 ou 40 anos. Ela explica que mesmo com os avanços da reprodução assistida, como o diagnóstico genético pré-implantacional — que permite avaliar embriões antes da transferência —, os riscos associados à idade permanecem.

“Muitas mulheres acreditam que, com a fertilização in vitro, terão um bebê saudável independentemente da idade. Mas não é bem assim. A qualidade dos óvulos diminui com o tempo e, acima dos 43 anos, as chances de sucesso caem drasticamente. Hoje mesmo vi o primeiro ultrassom de uma paciente com 46 anos e espero o resultado positivo de uma outra com 51. Com acompanhamento adequado, elas podem ter uma gestação saudável, mas é preciso cuidados intensificados, boa alimentação, atividade física e medicação específica”.

Mas a idade não recaí somente para a mulher. A médica lembra que a idade do parceiro também influencia.

“Pouca gente fala disso, mas homens acima dos 45 anos também apresentam maior risco de gerar bebês com alterações cromossômicas. É importante que isso também seja levado em conta”, finaliza Dra. Françoise Padula, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana.

Foto: arquivo pessoal Françoise Padula

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