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Projeto inovador de Petrópolis para detecção de câncer com cães é aprovado e avança no SUS

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Projeto inovador de Petrópolis para detecção de câncer com cães é aprovado e avança no SUS

Com índice de acerto próximo a 100%, o projeto recebeu aprovação na Plataforma Brasil e no comitê de ética animal, o que permite o avanço para a segunda etapa. Saiba como funciona

O KDOG Brasil, criado em 2018, é um projeto pioneiro que utiliza cães treinados para detectar câncer de mama através do olfato. A iniciativa, que vem sendo desenvolvida em Petrópolis, busca reduzir o tempo de espera para diagnóstico da doença, especialmente em populações carentes. Há um mês, o projeto recebeu aprovação na Plataforma Brasil e no comitê de ética animal, o que permite o avanço para a segunda etapa de treinamento dos cães, com a apresentação do odor do suor de pacientes aos animais.

Foto: divulgação

Desafios na implementação e os impactos da pandemia

Embora houvesse uma previsão inicial de integração do projeto ao Sistema Único de Saúde (SUS) ainda em 2021, o processo foi atrasado devido à pandemia. O acúmulo de projetos em busca de aprovação na Plataforma Brasil atrasou o início das atividades práticas, já que era necessário seguir as etapas de validação para garantir a integridade do projeto.

“Somente agora com a aprovação dos comitês de ética animal e humana que poderemos avançar para a segunda etapa de treinamento, que inclui a apresentação do odor do suor de pacientes aos cães. Com a pandemia muitos projetos se acumularam para aprovação na Plataforma Brasil e isso nos atrasou demais”, destaca Roberta Lopes, coordenadora do KDOG Brasil.

Resultados promissores e expansão do projeto

A taxa de sucesso dos cães no KDOG Brasil é impressionante: atualmente, os animais têm um índice de acerto próximo a 100% na marcação do odor do tumor. Entretanto, é apenas agora que se inicia a fase de apresentação do suor das pacientes, essencial para a validação do método como um complemento na triagem de casos suspeitos de câncer de mama.

Os resultados obtidos pelo projeto têm atraído a atenção de instituições relevantes. O KDOG Brasil conta com a parceria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que recentemente uniu forças à Fundação Cristiano Varella, em Muriaé, Minas Gerais.

“Eles têm um hospital oncológico maior que o Inca e atendem cerca de 3 milhões de pacientes por ano. Fazem a cobertura de 600 municípios. Já estamos conversando e nos alinhando para trabalharmos juntos a partir de agora”, diz Roberta.

Além disso, na área veterinária, o projeto recebe apoio da faculdade de Medicina Veterinária da Universidade da Serra dos Órgãos (Unifeso), em Teresópolis.

“Agora que temos a aprovação da Plataforma Brasil estamos de vento em popa para evoluirmos o projeto e chegarmos o mais breve ao SUS”, comemora a coordenadora.

Mas como funciona?

Diferente de outras técnicas já realizadas nos EUA e países europeus, que colocam o cachorro em contato com o paciente, no protocolo KDOD não existe o contato direto entre o cão e a pessoa que vai passar pelo teste. A intenção é usar a capacidade olfativa do cão para que ele consiga detectar as células cancerígenas através do odor que elas exalam – que é diferente das células saudáveis.

“A coleta da amostra do exame é feita através de uma gaze, que deve ser colocada sob as mamas durante algumas horas, e através dessa gaze que o cão faz a detecção. As células com câncer produzem um odor que é diferente de uma célula saudável. E o cão tem uma capacidade olfativa muitas vezes maior que a do humano. Por isso, ele consegue identificar o câncer até mesmo em estágios ainda mais iniciais antes mesmo do que qualquer outro exame”, explica Roberta.

Foto: divulgação

Vantagens e cães

Além de barato e eficaz, o método é 100% seguro, tanto para o paciente como para os cães, que são treinados através da estratégia de recompensa. Esse treinamento, feito pelo cinotécnico Leandro Lopes, tem o objetivo de motivar o cão a ir em busca do cheiro característico de pessoas contaminadas em troca de brincadeira e diversão.

Atualmente, o projeto conta com três cães para a detecção. O Onix, um pastor alemão; a Fama, uma braco alemão e o recém chegado Bento, que também é um braco alemão.

Mudanças culturais e a falta de investimento em biodetecção

Apesar dos avanços, o KDOG Brasil enfrenta desafios significativos no que diz respeito à aceitação cultural e à falta de investimentos. Roberta lamenta que, no Brasil, ainda não exista uma cultura consolidada de uso de cães em processos de biodetecção, em contraste com a realidade em outros países, onde esses animais são utilizados para identificar doenças como hipoglicemia, epilepsia e até crises de ansiedade.

“O trabalho com cães em nosso país não tem o reconhecimento que merece. Quando saímos do Brasil, em quase todos os aeroportos, sempre tem cães trabalhando. E todo mundo respeita e valoriza o trabalho. Aqui, muitas pessoas questionam a efetividade sem conhecer o trabalho. Não existe a cultura do cão de trabalho no Brasil”.

O projeto também precisa de maior apoio governamental e de parcerias com a iniciativa privada para assegurar sua sustentabilidade. Mesmo com a comprovação científica da eficácia dos cães no diagnóstico, a falta de legislações específicas e de investimentos em tecnologia limita o potencial de crescimento da iniciativa. Um exemplo citado pela coordenadora é o fracasso da tentativa de usar cães para detecção de Covid-19 no Brasil durante a pandemia.

“A detecção de Covid só funcionou na Arábia Saudita, onde a legislação é diferente”, comenta ela, explicando que, sem amparo legal, seria inviável interromper passageiros em aeroportos brasileiros com base apenas na identificação dos cães.

Parcerias e reconhecimento internacional

Apesar das dificuldades, o KDOG Brasil tem recebido reconhecimento global pela inovação. Em 2023, o projeto foi premiado mais de 80 vezes em competições internacionais, destacando-se pela sustentabilidade e potencial de impacto social. Na França, onde o projeto foi originalmente desenvolvido, a biodetecção avançou rapidamente, mas o KDOG Brasil continua sendo incentivado a explorar o método, especialmente pela carência de acesso a diagnósticos rápidos em algumas regiões brasileiras.

Próximos passos e expectativas para o futuro

Agora que as aprovações regulatórias foram conquistadas, o KDOG Brasil tem planos para o futuro. Com a perspectiva de ampliação para outras regiões do Brasil, a equipe espera integrar o projeto de maneira mais abrangente ao SUS, agilizando o diagnóstico de câncer de mama e oferecendo esperança a milhares de mulheres que aguardam nas filas de exames.

“A aceitação por parte dos pacientes do SUS tem sido positiva. São pessoas humildes, carentes de atenção e cuidado, sempre dispostas a participar e ajudar”, observa Roberta, destacando que a participação voluntária das mulheres é essencial para o sucesso do projeto.

Com as parcerias acadêmicas e o apoio de instituições renomadas, o KDOG Brasil segue almejando consolidar sua presença na luta contra o câncer de mama e contribuir para um diagnóstico mais rápido e acessível para todos. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas pelo site https://sfbo.com.br/kdog-brasil/

Foto: divulgação

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