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Carioca realiza o sonho de ser pai e adota sozinho dois irmãos petropolitanos

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Carioca realiza o sonho de ser pai e adota sozinho dois irmãos petropolitanos

Neste Dia dos Pais conheça a história de Fábio Santos, que se tornou pai solo através da adoção monoparental de duas crianças de Corrêas, oferecendo a elas uma nova perspectiva de vida 

 Por Cristiane Manzini sob supervisão de Luísa Abreu

O Brasil é um país com várias questões relacionadas ao planejamento familiar. Muitas crianças estão na fila da adoção, sobretudo aquelas que não preenchem os requisitos mais procurados pelas pessoas que buscam constituir uma família desta forma. Em geral, o perfil mais escolhido é o de recém-nascidos, acarretando uma dificuldade em promover a inserção familiar das crianças mais velhas. 

O carioca Fábio da Silva Santos, funcionário público de 50 anos, não se deixou influenciar por isso e, adotando tardiamente dois irmãos biológicos, mudou a vida desses petropolitanos e realizou o grande sonho de se tornar pai.

Foto: Arquivo Pessoal Fábio da Silva Santos

O pai

Nascido na Zona Norte do Rio de Janeiro, Fábio conta que foi adotado pela tia materna. A mãe adotiva assumiu a responsabilidade por ele e pelos seis irmãos biológicos, além do próprio filho que ela já tinha.

Aos 17 anos ele teve a possibilidade de se tornar pai pela primeira vez, porém com um aborto sofrido espontaneamente, Fábio viu a oportunidade se distanciar. Aos 24 anos a história se repetiu. A vontade de ser pai, no entanto, permanecia. “Perdi dois filhos por abortos espontâneos, mas o desejo em ser pai sempre permeou minha memória”, relembra.

Foto: Arquivo Pessoal Fábio da Silva Santos

Idas e vindas

Em 2010, já com 36 anos, Fábio começou a frequentar o grupo de apoio à adoção “Café com Adoção” da Vara de Infância no Rio de Janeiro. Após a terceira reunião, no entanto, Fábio resolveu repensar a ideia, já que àquela altura compreendia os desafios que estariam por vir ao assumir a responsabilidade de ser pai. “Já entendia que ser pai não é brincar de casinha…”, destaca.

Durante cerca de dez anos Fábio adiou o sonho da paternidade. Porém em 2021 decidiu não esperar mais. Ele conta que foi novamente à Vara da Infância buscar informações e foi orientado a entrar em contato com algum grupo de apoio à adoção. “Cores da Adoção”, grupo que ajuda as pessoas que estão iniciando na caminhada, acolheu o carioca. E desde essa época, Fábio, agora junto com os filhos, frequenta as reuniões. 

Foto: Arquivo Pessoal Fábio da Silva Santos

A trajetória da paternidade

Em abril de 2022 Fábio foi habilitado e, dois meses depois, incluído no Sistema Nacional de Adoção (SNA). Um ano depois da habilitação foi contatado pela Vara de Infância de Petrópolis, sobre a possibilidade de aproximação de duas irmãs vindas de uma família de cinco irmãos biológicos. Eram duas meninas, de 10 e 2 anos na época. Mais dois meses se passaram e, apenas em junho de 2023 ele iniciou o contato com as irmãs que viviam no lar Nossa Senhora das Graças, em Corrêas.

Chegando à instituição Fábio descobriu que o irmão delas, de 12 anos, não seria adotado e o incluiu no processo. Entre junho e setembro de 2023 houve a aproximação entre o pai e os futuros filhos. “Eu subia e descia a serra às quintas, sextas e sábados para ver as crianças”, comenta. 

No feriado de 07 de setembro as crianças foram pela primeira vez para a casa de Fábio. Foi a primeira oportunidade de exercitar a paternidade na prática. “Ali, de fato, eu pude sentir e perceber o que era ser pai, pois estava com três crianças que eu tinha plena ciência de que seriam meus filhos”, conta ele.

Os passos seguintes

Como o processo de adoção é cercado de cuidados tanto para as crianças quanto para os adotantes, o período de aproximação é fundamental para esclarecer possíveis dúvidas e corrigir a trajetória do percurso se necessário. Durante as idas para a casa de Fábio entre os meses de setembro e outubro, ele percebeu que a menina de 10 anos manifestava a vontade de ter por perto a presença feminina de uma mãe.

Porém isso era algo que Fábio não poderia lhe oferecer, já que desde os 25 anos se entende como um homem de orientação homoafetiva. “Eu conversei com eles, no dia que nos conhecemos no abrigo Nossa Senhora das Graças em Corrêas, que estavam iniciando uma aproximação onde teriam primas e tias, mas a figura de uma mãe, não!”, explica.

Todo o processo de aproximação é relatado à equipe técnica das instituições envolvidas, e, por este fato, a aproximação com a menina de 10 anos foi encerrada. Cerca de um mês depois, Fábio recebeu a guarda provisória dos dois irmãos, de 2 e 12 anos. Preocupado com o progresso escolar do menino, ele solicitou que se esperasse encerrar o ano letivo para não prejudicá-lo. 

Foto: Arquivo Pessoal Fábio da Silva Santos

A rotina

A rotina da família de Fábio é como a de qualquer outra. Acordam cedo, preparam-se para iniciar o dia e seguem para as atividades cotidianas. Ele conta que apesar de ter um namorado, eles não moram juntos, então as tarefas dia a dia ficam sob sua responsabilidade, e ressalta a importância de ter o suporte de pessoas próximas. “Tenho uma amiga de longa data que faz parte de minha rede de apoio, que os pega na escola e fica com eles até eu retornar do trabalho”, destaca.

Desafios

Fábio sabe que ser pai solo tem muitos desafios. Algumas das dificuldades passam pelos preconceitos sociais e a forma como famílias como a dele podem ser vistas. “Meu filho mais velho deve entender que ser negro, adotado e ser filho de um pai gay não o torna inferior ou menos capaz que qualquer outra pessoa. É por meio do aprendizado e conhecimento que ele será capaz de chegar aonde desejar”, relata o pai.

Foto: Arquivo Pessoal Fábio da Silva Santos

Outro desafio é ser um pai solteiro com uma filha de 3 anos, que ainda poderá sofrer, além da discriminação contra pessoas negras, também a que é praticada contra mulheres. “Vivemos em um sistema patriarcal, onde o racismo e a misoginia tentam condicionar a mulher a espaços limitados na sociedade”, comenta ele demonstrando preocupação.

Fábio relembra uma situação que chamou sua atenção, que é a exigência do nome da mãe na maioria dos cadastros, tais como matrícula escolar, plano de saúde, entre outros. “Estamos em 2024, devemos entender que existem outras composições familiares. Eu sou um pai cisgênero gay, mas e aquele pai hétero que cria seu filho? E aquela avó ou avô que cria o neto porque os pais faleceram ou porque não poderia deixar essa criança com os genitores?”, desabafa.

Antes e depois

Antes de se tornar pai, Fábio sempre gostou de colocar uma mochila nas costas e sair para conhecer lugares e novas culturas. Ele diz que pretende transmitir o gosto por viagens aos filhos, mas como eles ainda têm uma relação muito recente, não tiveram tempo de fazer mais do que algumas viagem curtas.

Ele se preocupa em oferecer aos filhos experiências que possam enriquecer a cultura e o aprendizado deles. Desde dezembro de 2023, eles estiveram em Paraty, São Lourenço, São Pedro da Aldeia e Nova Friburgo, além de Tiradentes e Ouro Preto, estes últimos com o intuito de mostrar ao filho o Ciclo do Ouro, que ele irá estudar no próximo ano na escola. 

Para quem deseja seguir este caminho

Fábio reforça que ter o desejo de ser pai é apenas o começo da caminhada. É preciso procurar as instituições adequadas, a partir da Vara da Infância do município, e frequentar grupos de apoio à adoção. “Bato nesta tecla, pois a participação no grupo de apoio a adoção me deu um alicerce muito bom sobre entender o que é a paternidade e seus desafios”.

Além disso, é preciso lembrar que os filhos são para sempre. “Ter filho não é brincar de casinha, não é algo que você não gosta ou não te atendeu e você devolve. Lembre-se que você está lidando com vidas que já sofreram algum tipo de violência”, comenta ele. 

Apesar do percurso, da decisão até a concretização da paternidade ser longo, Fábio terá mais um motivo para comemorar o seu primeiro Dia dos Pais: nesta semana saiu decisão da guarda definitiva das crianças.

E ele segue construindo a história da família que escolheu formar reforçando a condição mais importante para prosseguir na adoção. “Somente se proponha a paternar se, de fato, você tem desejo em dar amor a outro ser humano”, finaliza.

Foto: Arquivo Pessoal Fábio da Silva Santos

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