Conheça a história de duas mulheres que mantêm viva a tradição dos tapetes de Corpus Christi em Petrópolis
De gerações diferentes, Alice Kulberg e Jéssica Loureiro participam todo ano da montagem dos tradicionais tapetes de sal e celebram a festividade religiosa
Por Cristiane Manzini sob supervisão de Luísa Abreu
Os coloridos tapetes que cobrem as ruas do centro histórico de Petrópolis trazem em sua montagem histórias de dedicação, fé e muita união em torno de um só objetivo. Com espaço para quem quiser participar, os tapetes de Corpus Christi são uma tradição no Brasil. Em Petrópolis eles são confeccionados por pessoas como Alice, Jéssica e muitos outros colaboradores que fazem da tarefa uma verdadeira manifestação de religiosidade.
Foto: Equipe PASCOM
A importância da tradição
Alice Kulberg, de 48 anos, monta os tapetes há cerca de 24 anos. Para ela foi um caminho natural, já que fazia parte dos grupos de jovens da igreja. Hoje atua na PASCOM – Pastoral da Comunicação, equipe responsável pelo tapete circular posicionado na saída da Catedral e ponto inicial da procissão de Corpus Christi.
Um pouco mais jovem, Jéssica Loureiro, de 30 anos, também iniciou a participação nos grupos da igreja católica ainda na adolescência. Ela conta que quando era bem pequena ajudava a madrinha a encapar tampinhas de garrafa que posteriormente seriam usadas na confecção dos tapetes. A participação efetiva veio aos 18 anos. Jéssica diz que também foi um caminho natural fazer parte disso.
Foto: Equipe PASCOM
O simbolismo
A festa de Corpus Christi celebra a instituição do Sacramento da Eucaristia. Também chamado de Comunhão, a Eucaristia representa para os católicos a entrega do Corpo e do Sangue de Jesus. Este é o único dia em que o Santíssimo Sacramento sai pelas ruas.
A hóstia consagrada passa em procissão sobre os belíssimos tapetes, que são uma manifestação popular de adoração a Cristo. A primeira pessoa a pisar nos tapetes é o sacerdote que carrega o ostensório.
Foto: Equipe PASCOM
Os tapetes
Os desenhos que compõem os tapetes de Corpus Christi são variados, porém enfatizam o tema central que é a Eucaristia. Imagens relacionadas às pastorais, aos próprios ritos católicos ou outros assuntos abordados ao longo do ano na igreja também servem de inspiração.
Os materiais utilizados são variados, já que na maioria são resultado de doações. Os mais comuns são o sal grosso, a serragem tingida de várias cores, as folhagens, as cascas de ovos, o pó de café e as tampinhas encapadas.
Foto: Equipe PASCOM
Alice conta que não há um número certo de pessoas participando, já que a ação é voluntária, porém normalmente atuam os paroquianos e os agentes das pastorais, além de amigos e convidados.
O tempo necessário para a confecção dos tapetes varia de acordo com a complexidade dos desenhos, mas em média a tarefa leva entre cinco e sete horas para ficar pronta, explica Jéssica. Em 2024 o desenho central será o de um pelicano. Como conta Alice, o pelicano simboliza a própria eucaristia para o catolicismo.
Foto: Equipe PASCOM
Atração Turística
Por mais que os tapetes de Corpus Christi sejam uma demonstração de fé e tenham um simbolismo muito importante para os católicos, eles constituem também uma atração turística. Por se tratar de um feriado onde muitos turistas aproveitam para visitar a cidade, os tapetes chamam atenção pelas cores vivas e o caráter artístico. Jéssica aponta que muitas pessoas se aproximam e fazem perguntas sobre a montagem. Mesmo que elas não manifestem interesse religioso, ela acha importante a curiosidade do público.
“Isso é bom, porque é uma forma de mostrar a nossa fé para aqueles que ainda não conhecem”, explica a jovem.
Fotos: Julian Probst e Arquivos Sou Petrópolis
A união de esforços
A Catedral não é a única responsável pela montagem dos tapetes. Todas as paróquias que fazem parte do Decanato São Pedro de Alcântara (primeiro e segundo distritos de Petrópolis) são convidadas a participar.
Os espaços são delimitados para cada grupo de modo a completar o trajeto da procissão. Após a montagem dos tapetes a missa de solenidade de Corpus Christi é presidida pelo bispo e, como forma de agradecimento e acolhida a todos que participaram, a paróquia da Catedral oferece um almoço. Para Alice o almoço é um sinal de acolhimento. “É uma maneira da gente confraternizar, da gente festejar Corpus Christi juntando todas as paróquias ali na Catedral”, reforça.
Através da montagem dos tapetes nas ruas da cidade o verdadeiro sentido da comunhão se manifesta na união de todos, na celebração da fé e na partilha.