Verão começa neste mês; Petrópolis está preparada para as chuvas?
Estação começa no dia 21 de dezembro de 2025 e segue até 20 de março de 2026. Veja o que vem sendo feito pelo governo municipal para o período
Com a chegada do verão — de 21 de dezembro de 2025 a 20 de março de 2026 — período historicamente marcado por chuvas intensas, Petrópolis revive o alerta e a apreensão causados pelas últimas tragédias. E nesta quarta-feira (17), a poucos dias da estação, a cidade já mostrou que não está preparada para as fortes chuvas. O que foi feito? Como a cidade ficará neste verão? São essas perguntas que os moradores se fazem e vamos responder aqui.

Foto arquivo: Marianny Mesquita /Chuvas registradas em Petrópolis ano de 2021
Medo de quem vive em áreas de risco
Raquel Neves, moradora do Caxambu, relata o abandono histórico do bairro diante das chuvas que já marcaram profundamente a vida da comunidade em diversos períodos — 1988, 2001, 2018, 2022 e 2024. Segundo ela, mesmo após tantas tragédias, as ações estruturais prometidas pelo poder público continuam distantes da realidade, deixando moradores expostos a riscos que se repetem ano após ano.
A principal crítica de Raquel recai sobre a ausência de obras de contenção e prevenção, consideradas por ela urgentes para evitar novos deslizamentos e perdas humanas.
“Na Rua Bartolomeu Sodré, 14 pessoas morreram em 2022 e várias casas foram interditadas. A obra, assumida pelo governo do estado, nunca saiu do papel, uma postura ‘ineficiente’ e desrespeitosa com a população que continua vivendo sob medo e ameaça. A falta de soluções de drenagem, de reflorestamento, de coleta seletiva e de controle sobre ocupações irregulares nas encostas agrava ainda mais o cenário”, conta.
Apesar da inércia do governo nas obras estruturais, Raquel reconhece que a prefeitura e a Defesa Civil têm atuado de forma mais presente na preparação da comunidade. Ela destaca a criação do Núcleo de Defesa Civil Comunitária do Caxambu (Nudec), onde voluntários recebem capacitação para agir em emergências.
“Entre as ações em andamento estão o mapeamento participativo para definição de rotas de fuga, oficinas de pluviômetros caseiros nas escolas, parcerias com instituições como SOS Serra e UERJ e a implementação do Plano de Resiliência Individual (PRI), que tem ajudado a sensibilizar moradores. O bairro também ampliou para três o número de pontos de apoio”.
Ainda assim, Raquel reforça que nenhuma dessas iniciativas substitui as intervenções estruturais que realmente garantiriam segurança à população.
“Tem vários locais de alta vulnerabilidade, encostas ocupadas irregularmente e sem as obras necessárias. O cenário que vimos em 2022 pode voltar a acontecer. Então é fundamental que o poder público execute as obras para não tenhamos mais óbitos”, conclui a moradora.

Rua Bartolomeu Sodré – chuvas de 2022 / Foto arquivo Evaldo Macedo
Plano Verão
Para este ano, a Prefeitura apresentou o Plano Verão 2025/2026. O documento reúne ações de prevenção, resposta e alerta, articuladas ao longo de todo o ano por diversos órgãos municipais, instituições parceiras e sociedade civil. Ao todo, 55 instituições participaram da atualização do plano.
Segundo o prefeito Hingo Hammes, o foco é “deixar a cidade mais segura e salvar vidas”, enquanto o secretário de Proteção e Defesa Civil, Guilherme Moraes, reforça a importância de que cada petropolitano saiba como agir durante uma emergência.
“Estamos nos preparando desde o início do ano, com ações e articulações institucionais e com a sociedade civil, para estarmos preparados para as chuvas de verão. O nosso objetivo é deixar a cidade mais segura e salvar vidas”, disse o prefeito Hingo Hammes.
“Foram meses de trabalho e articulações para atualizar o documento e definir as ações e responsabilidades de cada ente. É importante que toda a cidade esteja preparada e que cada um saiba o que fazer, como fazer e quando fazer na hora da emergência”, ressaltou o secretário de Proteção e Defesa Civil, Guilherme Moraes.
O que vem sendo feito?
Entre as medidas já executadas ou em andamento, o município destaca 30 projetos de contenção, drenagem e estabilização de encostas, incluindo intervenções na Estrada da Saudade, Bingen, Alto da Serra, Quitandinha, Araras e outros bairros com histórico de risco. As obras no Morro da Oficina, uma das áreas mais afetadas nos últimos anos, estão na fase final.

Foto: Reprodução Instagram @lucones_santana / Chuvas registradas em Petrópolis ano de 2021
Segundo o governo municipal também foi concluída a dragagem de rios em parceria com o Governo do Estado e o avanço na instalação do radar Banda X, equipamento de alta precisão que deve auxiliar no monitoramento climático e na emissão de alertas antecipados — etapa considerada estratégica para reduzir riscos.

Fotos: arquivo reprodução Redes Sociais / Chuvas registradas fevereiro de 2024
Túnel Extravasor
Após três anos do temporal que deixou mais de 230 mortos, a obra no Túnel Extravasor, uma das principais ações de prevenção a novos desastres ambientais em Petrópolis, foi entregue no mês de abril. O extravasor desvia as águas do Rio Palatino para o Rio Piabanha e funciona como uma válvula de escoamento, que pode evitar novas tragédias em casos de fortes chuvas.
Em 2022, a túnel não aguentou e cedeu após chover mais de 260 mm. Os investimentos das obras somaram R$ 79 milhões em duas fases dos serviços, que começaram em julho de 2022 após determinação da Justiça e cobranças do Ministério Pública e tinham previsão para durar apenas seis meses. Os serviços incluíram a concretagem do fundo da galeria, instalação de comportas, além de aplicação de resina anticorrosiva, entre outros serviços.

Foto: divulgação PMP
Ações integradas de Defesa Civil e capacitação das comunidades
A Defesa Civil tem realizado testes do sistema de sirenes, capacitações dos Nudecs, mapeamento participativo, construção de rotas de fuga e participação em fóruns, cursos e seminários voltados à prevenção de desastres. Também foram organizadas iniciativas como o I Fórum de Gestão do Lixo e Redução de Riscos e o I Seminário dos Núcleos de Proteção e Defesa Civil.
Além disso, projetos em parceria com universidades, ONGs e instituições internacionais — como Jica, Unifase, Fiocruz e Ministério das Cidades — reforçam o planejamento de longo prazo para enfrentar emergências climáticas.

Foto: arquivo Ascom PMP
Limpeza urbana, pontos de apoio e monitoramento 24h
Segundo o documento, a Comdep realizou a limpeza de 11.247 bueiros, 533 bocas de lobo e 651 canaletas, além da manutenção de encostas e áreas sensíveis. A Assistência Social revisitou e abasteceu os pontos de apoio que serão utilizados em caso de necessidade, com a distribuição de mais de 1,7 mil itens entre colchonetes e insumos.

Foto: arquivo divulgação PMP
O sistema municipal de monitoramento também foi reforçado: os cães do canil passaram por treinamento para atuação em desastres, novos rádios transmissores foram distribuídos para melhorar a comunicação em campo, e o Cimop segue operando 24 horas por dia no acompanhamento da cidade.
A CPTrans também reforçou sua atuação para o período de chuvas, com a revitalização da sinalização das ilhas de segurança e treinamento especializado dos agentes de trânsito, garantindo maior organização viária e apoio às operações de emergência.

Rua Coronel Veiga no dia 13 de dezembro de 2022. Foto: Reprodução Internet
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