Professora e escritora petropolitana toma posse na Academia de Letras da Romênia
Sandra Brito é autora de livro referência em pesquisas sobre Machado de Assis, traduzido para várias línguas, e também recebeu prêmio na maior feira de literatura do mundo
Entre os dias 21 a 24 de outubro, a Romênia, na Europa, recebeu a Semana Cultural Brasil-Romênia, um evento que reúne escritores, artistas e intelectuais dos dois países em uma série de atividades voltadas à literatura, música e diplomacia cultural. E Petrópolis esteve muito bem representada por lá com a professora, jornalista e escritora Sandra Brito.

Fotos: Arquivo Pessoal
A petropolitana foi uma das autoras convidadas para lançar a coletânea Cantos do Brasil, com textos inéditos sobre a diversidade e a pluralidade sociocultural do país. Sandra também representou a comitiva brasileira, sendo empossada como membro imortal do Núcleo de Letras e Artes da Romênia.
“É de uma responsabilidade imensa poder representar a Literatura do Brasil em um país distante, de língua diversa, mas com um intenso desejo de conhecer nossa cultura e história. Fui muito bem acolhida pela classe artística em Bucareste e o interesse em conhecer mais sobre a Romênia ficou latente em mim. Tomar posse em um Núcleo Acadêmico tão importante me deixou orgulhosa da minha origem, da minha trajetória e também da minha terra, que me possibilitou tantas conquistas por meio da Educação”, declara.
A Semana foi promovida pela Delegação Internacional das Academias de Letras e Artes e a Embaixada Brasileira e a cerimônia de posse aconteceu no dia 24, no Museu Nacional de Poesia da Romênia. Também tornaram-se imortais alguns dos principais escritores e artistas romenos da atualidade, como Dinu Flamand e George Blaicu.
“O evento reforçou a cooperação cultural entre o Brasil e a Romênia e destacou a importância da literatura e das artes como instrumentos de aproximação entre os dois países”, destaca a artista.

Fotos: Arquivo Pessoal
Participação na maior feira de literatura do mundo
Também em outubro, mas desta vez na Alemanha, Sandra participou da Feira Mundial do Livro de Frankfurt, o maior evento literário do mundo, onde lançou uma coletânea bilíngue sobre a Fauna Brasileira e foi premiada com o troféu “Personalidade do Ano”.
“A literatura já me presenteou de muitas formas, abrindo várias portas. Já viajei para inúmeros países mostrando meu trabalho e, agora, receber uma premiação tão importante fora do país, foi incrível. Em novembro, também tomarei posse na Academia de Belas Artes do Rio Grande do Sul e na Academia Mineira de Belas Artes. São muitos os caminhos possíveis na literatura, basta estar disposto a trabalhar com afinco e buscar sempre o conhecimento para alcançar nossos objetivos”, pontua a professora.

Fotos: Arquivo Pessoal
Trajetória na educação
Por vir de pais humildes, que não tiveram condições de estudar, Sandra aproveitou todas as oportunidades que lhe foram apresentadas para investir em sua educação. “Sempre tive afinidade com a escrita e, de alguma forma, achei que minha trajetória deveria estar ligada a este ofício. Ser escritora ainda era um sonho muito distante, então meu formei em Letras”, comenta.
A petropolitana prestou seu primeiro concurso público aos 18 anos, quando foi trabalhar como assistente administrativa. Apesar de ser técnica em contabilidade, aquilo não a completava e ela prestou outro concurso, agora para trabalhar como bibliotecária.
“Ali, o contato com os livros e com os leitores me reaproximou do gosto pela literatura. Depois fui para a Educação, passei em outro concurso para ser inspetora de disciplina e, naquele mesmo ano, entrei em sala de aula pela primeira vez como professora. Fui cursar Letras e passei em outro concurso, o primeiro como professora. Depois veio o segundo, o terceiro, o quarto…”, explica.
Desde então, Sandra trabalhou em escolas da Prefeitura, do Estado e da rede privada, e lecionou em cursos e universidades. A docente também fez uma série de especializações e é formada em Comunicação e Marketing, em Jornalismo e, além de Letras Português/Literatura, em Letras Espanhol e Inglês.
“Na verdade, nunca parei de estudar e pretendo continuar. Fiz meu Mestrado em Língua Portuguesa e meu Doutoramento em Linguística, ambos em Lisboa. A ideia é evoluir sempre, como profissional e, sobretudo, como ser humano”, reforça.

Fotos: Arquivo Pessoal
Início na literatura
O primeiro e principal livro lançado por Sandra foi “O tom confessional e autobiográfico na epistolografia de Machado de Assis”. Publicado em 2018, na Europa, a obra foi traduzida para o inglês, francês e espanhol e chegou ao Brasil com um grande sucesso. O livro tornou-se uma referência para estudos sobre Machado de Assis e é possível encontrá-lo para pesquisas em universidades do mundo inteiro.
“Escrevi este livro por uma natural curiosidade a respeito da vida do autor que mais me fascinou. Não entendia como um menino negro, nascido no Morro do Livramento, filho de escravo, teria chegado à Presidência da Academia Brasileira de Letras sem nunca ter estudado. Que espécie de trajetória fantástica teria sido essa? Fui então ler algumas biografias, mas faltava muita coisa. Havia muitas lacunas que eu queria ajudar a preencher. Foi então que surgiu a ideia, durante meu Mestrado, de estudar as cartas de Machado. Fui pesquisar 1200 cartas para saber que segredos elas guardavam”, conta.

Fotos: Arquivo Pessoal
Amor pelo jornalismo
Hoje, Sandra atua como professora universitária e jornalista em canais de Petrópolis. E o interesse pela comunicação veio justamente quando ela lançou seu primeiro livro e foi convidada a dar diversas entrevistas.
“Por conta da minha trajetória, fui convidada a escrever uma crônica no aniversário de morte de Machado de Assis e virei colunista. Os leitores gostaram tanto da forma como escrevia, que fui convidada a levar meu conhecimento literário para um quadro na tv, chamado Trilhas Literárias. Hoje tenho um programa semanal, com quadros de viagem, entrevistas e literatura – o Cultura na TVC”.
Próximos passos
Na literatura, Sandra publicou outros livros, como “As melhores dicas para se tornar um nômade digital” e, mais recentemente, “A experiência exílica na poesia – algo além da solidão e da saudade”. Além das participações em diversas coletâneas, algumas delas no exterior, a artista também tem algumas peças escritas e já encenadas e está terminando outros dois livros.
“O lançamento de cada livro é sempre muito especial. Mas neste último, ‘A experiência exílica na poesia’, tive com a oportunidade de retornar à Bienal do Rio como escritora, além da Flip em Paraty, da Felicon em Conservatória, da Flian em Anchieta, da Fliparacatu e Fliaraxá. Ainda faremos o lançamento em muitas ocasiões, como a Bienal do Paraná, a Fliop em Ouro Preto e a Flipetrópolis, neste mês”, finaliza.

Fotos: Arquivo Pessoal
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