Projeto redesencontros publica livro sobre comunidades de Petrópolis
Intitulado “Fio de Lume”, obra reúne histórias do Vale do Carangola e Vila Rica e está disponível gratuitamente
Que Petrópolis é uma cidade repleta de muita história, todos sabem. Mas além daquela contada nos livros didáticos, sobre a colonização e a família imperial, os bairros revelam muitas narrativas incríveis. Pensando em reuni-las em um só lugar, o projeto redesencontros (rdct) se juntou à lideres comunitários da cidade e lançou um livro de memórias intitulado “Fio de Lume”.
Foto: Mariana Rocha
A obra consiste em uma pesquisa histórica realizada com 14 moradores do Vale do Carangola e Vila Rica. O título já está disponível como e-book de forma gratuita clicando aqui, mas vai ganhar uma versão impressa, financiada pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (SECEC), que será distribuída nos bairros participantes e também em escolas, bibliotecas e demais espaços de interação comunitária.
“Entendemos que é importante imprimir porque é importante dar materialidade física às histórias. As pessoas devem poder pegar, manusear e mostrar as histórias, seja numa escola, numa associação de moradores ou num botequim. “Fio de lume” somente na Internet seria um equívoco histórico e político”, afirma Bernardo Stumpf, um dos coordenadores da iniciativa.
Para Lilian Regina, também conhecida como “Tia Lili” e líder comunitária do Vila Rica, participar dos projetos foi um orgulho. “Me ajudou a sempre ouvir com atenção e falar com o coração. Meus sentimentos foram aflorados e me sinto mais atenta às histórias (inclusive à minha) e ao outro. Que tenhamos mais oportunidades de fortalecer nossas raízes pessoais e comunitárias”.
Foto: Mariana Rocha
Dar luz às narrativas invisibilizadas
Em 2019, a fotógrafa petropolitana e estudante de História Mariana Rocha, interessada pelas narrativas anônimas e invisibilizadas pela história oficial, criou um projeto chamado “Memória Popular de Petrópolis”, um acervo audiovisual de histórias contadas por mulheres viventes nas periferias da cidade.
Naquele momento, ela escolheu dialogar com mulheres do Vale do Carangola e do Vila Rica, porém, a ação foi interrompida pela pandemia da covid-19. Em 2023, os participantes do rdct, pegando carona em uma das regras de ouro do grupo, que é “se interessar pelo interesse da outra pessoa”, retomaram a ideia.
“Mas com algumas mudanças de rumo. Trocamos o vídeo pela palavra falada e escrita, por entendermos que o formato audiovisual já é uma dominante cultural nos dias de hoje e, portanto, gostaríamos de estimular outras sensibilidades. Também abrimos o recorte de gênero, contando com a participação de homens, e optamos por nomear o acontecimento menos de maneira descritiva e mais de um jeito fabuloso: ‘Fio de lume'”, explica Bernardo.
A arte além da cidade
Mariana Rocha, membro regular do rdct, enxerga a arte e a cultura como ferramentas de transformação social, capazes de conectar pessoas, resgatar memórias e promover um senso de pertencimento que fortalece os laços comunitários. E foi a fim de fazer com que os moradores se reconhecessem como agentes ativos na construção das narrativas de seus próprios territórios que ela iniciou o projeto.
“Quando as pessoas veem suas histórias, tradições e expressões artísticas sendo valorizadas, isso gera um impacto positivo na autoestima coletiva e no orgulho de fazer parte daquele lugar. A arte, nesse sentido, não é apenas um meio de expressão, mas também um modo de existir. Através dela, é possível discutir temas como desigualdade, acesso a direitos, preservação da memória e construção de futuros mais justos e inclusivos. Além de democratizar o acesso à cultura, levando essas experiências para além dos espaços centralizados das cidades”, acrescenta.
Foto: Mariana Rocha
Sobre o redesencontros
Bernardo descreve o rdct como uma associação informal que aproxima as pessoas das artes, da educação e das organizações comunitárias, por meio de experiências interativas que visam transformar a percepção daquilo que é comum.
Além dele e de Mariana, fazem parte do projeto os educadores e artistas Daniel Figueiredo e Thiago de Souza. O grupo já atua desde 2014, mas sua primeira realização formal aconteceu em 2020, quando foi criado outro livro comunitário, este sobre o Morro da Oficina, o “Conversas no Morro”.
Desde então, outras duas produções, além do “Fio de Lume”, foram elaboradas pelo rdct: o curta-metragem “COMEMORATA”, em resposta à celebração do bicentenário da independência do Brasil, e o “caraminhola”, uma série de oficinas arte-educativas realizada nos bairros Morro da Oficina, Quilombo da Tapera e Vila Rica, que está em fase de finalização para virar um jogo eletrônico.
Foto: Mariana Rocha
Próximas ações
Quando os livros impressos estiverem prontos, serão realizados eventos de lançamento no Vale do Carangola e no Vila. “A partir daí, essa comunidades vão poder, de maneira concreta, usufruir do seu livro histórico, conectar pessoas, mobilizar memórias que impactam diretamente suas identidades e revelar expressões fundamentais para um entendimento de Petrópolis em sua pluralidade”, declara Bernardo.
A iniciativa também deseja, a partir dessa publicação, criar condição de ampliação da ação, para que outros bairros e comunidades possam ter suas memórias registradas e publicadas.
Ainda este ano, Petrópolis também receber uma ação performativa dos redesencontros: “DANÇA”, uma cena-festa criada junto a um braço carioca da associação, que vai realizar uma circulação fluminense pelas cidades de Duque de Caxias, Niterói, Petrópolis e Rio das Ostras.
Outra iniciativa que deve sair em breve é o jogo “caraminhola”, baseado nas oficinas do projeto, que consiste em associar palavras em cadeia, com coesão e sem repetições. O game terá mecanismos de limite de tempo, ranqueamento e modos de acessibilidade.
Foto: Mariana Rocha
Para acessar as publicações e acompanhar todas as atividades do rdct, é só acessar o website da iniciativa clicando aqui.
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