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Dia do Vendedor de Livros: conheça o fundador da Funambule, livraria encantadora em Petrópolis

Cultura

Dia do Vendedor de Livros: conheça o fundador da Funambule, livraria encantadora em Petrópolis

Entre viagens para a França, momentos de incertezas e a busca por respostas na literatura, Heberti Rodrigo criou a Funambule, livraria e cafeteria que abraça leitores petropolitanos e de todo o mundo

Nesta sexta-feira, 14 de março, é celebrado o Dia do Vendedor de Livros, profissional responsável por proporcionar histórias incríveis para os leitores. E para comemorar a data, nada melhor do que conhecer a história de um destes profissionais. Em entrevista à Sou Petrópolis, Heberti Rodrigo de Azevedo Lino, fundador da Livraria Funambule, contou como é trabalhar em meio a tantos universos literários.

Fotos: Divulgação e Arquivos Sou Petrópolis

Primeiros contatos com a leitura

Ao pensar em um dono de livraria, a primeira imagem que vem à cabeça é de alguém que, desde criança, era aficionado por livros e via na literatura o trabalho dos sonhos. Mas como a trajetória de vida de Heberti não é nada convencional, esse não foi o seu caso.

Seu primeiro contato com a leitura foi sim quando ele era pequeno, mas na escola, de forma obrigatória e com livros que, até hoje, ele não teve interesse de ler. Durante toda a vida, o petropolitano de coração acreditava que a literatura era desestimulante. Mas num momento em que estava perdido sobre qual caminho trilhar foi que ele encontrou, nas páginas dos livros, as respostas que tanto buscava.

“Venho de uma família militar. Então o caminho mais certeiro seria seguir essa carreira. Com muito estudo e dedicação, ingressei no Instituto Militar de Engenharia (IME), o mais concorrido da época. O desafio de passar foi cumprido, tinha todo um futuro promissor pela frente, mas estava insatisfeito. Não me via como militar e no quarto ano decidi sair. Nesse processo, redescobri a leitura. Li autores franceses e alemães, filósofos e psicólogos, e, conforme eu lia, mais eu questionava meu lugar no mundo”, conta.

Fotos: Arquivos Sou Petrópolis

A literatura como um instrumento de busca

Ao se desligar do IME, Heberti tinha convicção do que não queria fazer, mas não do que queria para a vida. Chegou a ingressar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas percebeu que a via universitária também não era para ele.

“A leitura passou a ser um instrumento de busca, não só um entretenimento. Passei a trilhar um caminho nada convencional, me deparei com a vida real e precisava de um modo para sobreviver. Encontrava as respostas para as minhas dúvidas nos livros”, declara.

Naturalmente, quanto mais lia, mais coisas Heberti tinha a dizer. E foi assim que ele começou a escrever, chegando a ganhar uma menção honrosa no concurso Fábrica de Livros da Firjan, o que o motivou ainda mais. Buscou emprego como livreiro, mas o currículo militar acabava sendo um empecilho. Neste momento, ainda não havia passado por sua cabeça a ideia de vender livros por conta própria, mas algo começava a se formar.

Em 2010, viajou para a França e lá conheceu um grupo de escritores de várias partes do mundo, que se reuniam na livraria Shakespeare and Company. Cada um compartilhava seus textos, lidos em inglês, e debatiam formas de melhorá-los.

“Esse ambiente foi muito bom. Também frequentava muitos cafés, sebos e livrarias, e observava o modo de vida dos franceses. Aquilo só reafirmava em mim o desejo de morar lá. Voltei a Paris no ano seguinte e, toda vez, sentia que precisava passar mais tempo por lá. Até que em 2018 conseguimos ficar um ano e meio no país”, relata.

Na época, Heberti e Taynah, mãe de seu filho e servidora pública federal, investiam o que sobrava no final do mês e construíram um pequeno patrimônio.

“Economizávamos o que dava. Ficamos 15 anos sem carro, só andando de bicicleta, por exemplo. E o que sobrava, eu investia em ações e títulos públicos. Com muita disciplina, conhecimento e um pouco de sorte, o montante alcançado permitiu que fizéssemos as viagens para a França, fosse dada a entrada num apartamento e eu abrisse a Funambule. Nossas escolhas também permitiram que eu pudesse ficar cuidando do nosso filho todos os dias durante seus 10 anos”, explica.

Viagem feita de bicicleta de Paris ao Mont Blanc. Ao chegar ao destino, Heberti tomou a decisão de abrir a Funambule assim que retornasse ao Brasil. Fotos: Divulgação

O sonho francês

Em 2019, voltaram ao Brasil por não terem mais perspectiva de como ficar por lá. Mas, nos últimos dias em solo europeu, Heberti descobriu uma livraria que trabalhava com obras em língua portuguesa e isso acendeu uma luz na sua cabeça. Em janeiro de 2020, ele fez um curso de barista no Coffe Lab e, durante a pandemia, passou a treinar algumas receitas de cafés especiais em casa.

“Tudo isso, somado às vivências que eu tive na França, culminaram na ideia da Funambule. Vi na livraria uma forma de conseguir regressar à França um dia”.

Nesta época, Heberti foi ao Rio fechar uma conta universitária que ainda estava aberta e, tomando um café no Botafogo Barra Shopping, avistou uma livraria com obras a preços populares.

“Vi um sujeito comprando 10 exemplares do mesmo título e aquilo chamou a minha atenção. Ele se sentou na mesa em frente à minha no café e decidi puxar papo. O homem então me explicou que ele era um livreiro, contou as dificuldades e os pontos positivos da profissão e fiquei motivado com sua história”.

Se tornando livreiro

Heberti então comprou alguns exemplares naquela livraria e, ao voltar para Petrópolis, começou a vender os livros em uma mesa na Vila Primavera.

“Mas a única pessoa que comprou algo foi o padrinho do meu filho. Me desestimulava ver que as pessoas pagavam 15 reais numa cerveja, mas não em um livro. Comecei então a vender online e as coisas melhoraram um pouco. Queria uma forma rápido e com custo reduzido para trabalhar com livros. Quando acabou a pandemia, senti a necessidade de abrir uma loja física”.

Funambule na Vila Primavera. Fotos: Divulgação

Para o futuro livreiro, este novo espaço não serviria apenas para vender os livros, mas sim, para conviver com outros leitores.

“Nos 10 anos anteriores, minha vida foi voltada para o meu filho. Uma experiência intensa e impactante. Mas eu sentia necessidade de alargar o meu ciclo de relacionamentos. Quando eu abro a Funambule, existe essa necessidade natural de ganhar dinheiro, mas também de aumentar o meu contato com o mundo. Mas queria, de alguma forma, escolher as pessoas que iriam conviver comigo, nesse caso, outros leitores”.

Heberti tinha bem estruturado como ele queria que sua livraria fosse fisicamente, inspirada na França, sobretudo, em um sebo e café que visitou na Normandia, em 2012.

“Quando me perguntam a origem da Funambule, lembro desse local aconchegante, onde o dono conversava com os clientes de forma atenciosa. Embora gostasse da grandiosidade da Shakespeare and Company, a semente brotou deste pequeno sebo”, revela.

A criação da Funambule

Hoje, a Livraria Funmabule fica localizada em um casarão dentro do Petrópolis Green Offices, que, como Heberti define, foi um verdadeiro achado.

“Ando de bicicleta por toda a cidade e nunca encontrava um espaço para montá-la, até que vi esse imóvel. Lembro de colocar o rosto na janela e ver o lustre que há lá dentro. Tive a certeza de que ela seria ali”, afirma.

Fotos: Arquivos Sou Petrópolis

O projeto arquitetônico foi feito por uma profissional especialista nas influências francesas e, com a experiência literária e a especialização em cafés especiais de Heberti, o empreendedor conseguiu alcançar sua livraria dos sonhos.

“A ideia era replicar os ambientes que eu via na França, aqui em Petrópolis, envolvendo literatura, gastronomia e troca de experiências”.

Mais de um ano se passou desde a inauguração do espaço, mas Heberti ressalta que o caminho não foi fácil.

“Quando contei que abriria uma livraria, muitos falaram que ela fecharia rápido. Mas já estamos aí há um ano. E isso, num empreendimento onde só duas pessoas e outros dois apoiadores trabalham é muita coisa. Investi tudo o que tinha nela, meu dinheiro, paixão e energia. Está tudo ali e levou tempo pra vir essa coragem”.

O nome da Livraria vem dos Funambules, os equilibristas franceses que, mesmo com o perigo e o risco de cair, permanecem em seu propósito de vida.

“A história desses profissionais me encorajou muito. Em Petrópolis, há um estímulo de não arriscar. Já na França, havia uma energia de ‘faça’. Uma frase que sempre ficou na minha cabeça nesse caminho esquisito e tortuoso foi ‘Salte que a rede vai aparecer’. Foi o que eu fiz e hoje estou onde deveria estar”, ressalta.

Fotos: Arquivos Sou Petrópolis

Acolhimento

Logo nos primeiros meses de existência, foi criado o primeiro clube de leitura da Fumanbule, concretizando um dos maiores objetivos de Heberti, a integração entre leitores.

“Os participantes destes clubes encontram amizades para a vida. Além da literatura, eles fazem corridas juntos, vão ao cinema e teatro, e é muito bacana ver isso se formando dentro da livraria. Pessoas que a princípio não tinham nada em comum, mas quando descobrem um ponto conjunto, formam uma amizade. Isso pra mim é muito gratificante”, afirma.

Para o petropolitano de coração, essa troca de experiências e vivências com os visitantes tem sido enriquecedora, agregando, ainda, na escrita dos livros que Heberti um dia sonha em publicar. “A livraria não satisfaz só a minha necessidade, mas também a de quem a visita”.

É este acolhimento que Heberti sentiu ao ler um de seus primeiros e favoritos livros, o Lobo da Estepe, de Hermann Hesse. “A literatura, sobretudo a alemã, me encorajou a tomar decisões difíceis. Nos livros, tinha a sensação de ser compreendido, e é o que sinto na Fumambule. Noto que isso também acontece com os visitantes da livraria, que se sentem estimulados e encontram interpretações para questões das suas vidas. Essa é a importância de estar em contato com a literatura e a livraria. O livro fala o que precisamos ouvir de forma suave e impactante, mais certeira, mesmo que já tenhamos ouvido aquilo de outro pessoa”, aponta.

Foi assim que aquele menino que não gostava de ler criou uma livraria tão encantadora. “É como se o acaso estivesse agindo o tempo todo, por meio das pessoas e dos livros. Há 20 anos, eu sabia que se continuasse naquele caminho linear, eu seria hoje um coronel. Mas quando eu saí, abriram-se várias possibilidades. Não imaginava que iria parar na França e ter uma livraria, logo eu que nem gostava de ler. É muito bacana ver todo esse caminho, as emoções e as descobertas que com ele vieram”, finaliza.

Fotos: Divulgação e Arquivos Sou Petrópolis

Onde encontrá-los?

A Livraria Funambule fica localizada no Petrópolis Green Offices, na Rua Professor Stroeller, 428, loja 15B, no bairro Quarteirão Brasileiro, a poucos minutos do Centro Histórico.

O espaço, que também é uma deliciosa cafeteria, funciona às segundas, de 12h às 19h, e de terça a sábado, das 11h às 19h. Mais informações podem ser encontradas no Instagram @livraria_funambule.

Fotos: Arquivos Sou Petrópolis

Veja também:

Essa matéria foi feita em parceria com a Livraria Funambule
Livraria Funambule no instagram
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