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Você sabia que Petrópolis agora tem um Circuito da Memória Negra?

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Você sabia que Petrópolis agora tem um Circuito da Memória Negra?

Circuito é promovido pelo Museu da Memória Negra de Petrópolis, em parceria com a Associação dos Guias de Turismo da cidade e com a Casa Fluminense

Resgatando e valorizando as histórias negras apagadas da narrativa e da paisagem urbana, Petrópolis agora conta com o Circuito da Memória Negra. O trajeto, pelo Centro Histórico e localidades próximas, oferece aos participantes reflexões sobre o passado e a importância da memória na construção do território petropolitano.

O Circuito é promovido pelo Museu da Memória Negra de Petrópolis, em parceria com a Associação dos Guias de Turismo da cidade e com o patrocínio da Casa Fluminense. O projeto foi elaborado a partir de um mapeamento minucioso realizado por historiadores, urbanistas, geógrafos e educadores.

Foto: Bruno Soares

Percurso

O percurso passa por pontos levantados e mapeados pelo Museu. O trajeto oferece uma oportunidade para reconectar-se com o legado, reacendendo uma consciência coletiva sobre a importância da memória negra na construção da identidade material e imaterial de Petrópolis.

“Considerando que, na formação territorial de Petrópolis, os territórios quilombolas foram invisibilizados, o Circuito da Memória Negra de Petrópolis surge para promover o resgate histórico do povo negro petropolitano, por meio de uma caminhada pelo Centro Histórico com temática antirracista. O circuito traz ao público a história do povo negro e sua contribuição para a formação histórica do território petropolitano, que não é contada nos livros”, explica Raquel Neves, guia de turismo da Associação dos Guias Petropolitanos.

Raquel conta que, no turismo, esse segmento se enquadra no Afroturismo, que visa valorizar a cultura negra e a história do povo negro.

“É uma forma de reconectar identidade e ancestralidade e, também, uma oportunidade para fortalecer a luta por igualdade e reconhecimento”.

Foto: Guia de Turismo Ana Beatriz

Conheça o Circuito e um pouco da história da Memória Negra em Petrópolis

O Circuito se inicia na Igreja Nossa Senhora do Rosário e passa por locais importantes que remontam à história de personagens ligados à memória negra da cidade, como o Palácio Amarelo, residência do Barão de Guaraciaba, a Praça da Liberdade e seus monumentos, e o Palácio de Cristal. Confira o roteiro.

1. Antigo Túnel do Trem

O túnel, localizado próximo à antiga estação de trem no Centro Histórico, foi palco de um acidente que tirou a vida de uma personagem do século XIX: Maria Comprida. Trabalhadora sexual, Maria era querida por boa parte da elite petropolitana. Registros históricos indicam que ela foi atropelada nesse túnel enquanto tentava se esconder de um guarda que a perseguia. O nome dessa personagem histórica está relacionado ao nome da povoação que existiu no Vale das Videiras, o Quilombo Maria Comprida.

2. Igreja do Rosário – Irmandade Negra

Erguida em um terreno doado à comunidade de escravizados para que tivessem um local de adoração a Nossa Senhora do Rosário, a igreja foi inaugurada em 1883, tornando-se um ponto fundamental para a articulação da população afrodescendente da época, junto à Irmandade do Rosário dos Homens Pretos. Em 3 de abril de 1978, foi inaugurada a nova igreja, sem vestígios da construção erguida pelas mãos e pela intelectualidade de homens e mulheres negras.

Saiba mais: 8 fatos e curiosidades sobre a Igreja do Rosário, em Petrópolis

Foto: @luisfelipeimoveis

3. Mercado de Escravizados

“Clube do Comércio” era o nome do mercado que comprava, vendia e alugava escravizados. Ele estava localizado na Rua do Imperador, na altura do antigo número 58. Há também registros indicando que o estabelecimento de número 23 funcionou como um mercado de escravizados.

4. Obelisco – Monumento Africano

O obelisco é um elemento da arquitetura egípcia, de forma retangular e finalizado com uma estrutura piramidal, geralmente construído em pares e adornado com símbolos religiosos em homenagem a reis e pessoas dignas de reverência. Trata-se de um símbolo da tecnologia e da filosofia africana que, em Petrópolis, foi utilizado para homenagear os colonos europeus.

Foto: Divulgação arquivo PMP

5. Palácio Imperial

Segundo a historiadora Lilia Schwarcz, em As Barbas do Imperador, há registros de que, no antigo Palácio de Petrópolis – hoje Museu Imperial –, chegaram 39 escravizados, em 1845, para atuar na construção da casa, juntando-se a outros que já trabalhavam no local.

Foto: Divulgação

6. Pelourinho Perdido

No processo de tombamento definitivo do Palácio Amarelo, atual Câmara Municipal, realizado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, consta que, ao longo dos anos 1950, desapareceram o pelourinho e as cangas – vestimentas dos escravizados – que estavam onde hoje se encontra o arquivo. Acredita-se que esses materiais sejam referentes à primeira fase da casa, quando pertencia à família Mayrink.

Foto: Divulgação Câmara Municipal

6.1. Guaraciaba – 1° Barão Negro

Francisco Paulo de Almeida, conhecido como Barão de Guaraciaba, era um homem negro, tropeiro e fazendeiro, sendo o primeiro e único Barão negro na história do Brasil. Distinguiu-se por ter sido financeiramente o mais bem-sucedido negro no período da monarquia. Foi proprietário do emblemático Palácio Amarelo, atual Câmara Municipal.

Até a atual ocupação, o Palácio teve um histórico de diferentes usos. Originalmente, o palacete pertencia à família Mayrink, que o vendeu ao Barão de Guaraciaba. O município tinha a intenção de adquirir o imóvel para instalar ali o Paço Municipal. No entanto, o Barão se recusava, a qualquer custo, a realizar a venda. Em 17 de junho de 1891, tomou conhecimento de que a municipalidade havia autorizado a construção e exploração do terreno onde hoje se encontra a Praça Visconde de Mauá.

Veja também: Você sabia que o Palácio Amarelo de Petrópolis pertenceu ao 1º e único Barão negro da história do Brasil?

Foto: arquivo público

7. Rua 13 de Maio

Durante o ano de 1888, o abolicionismo se tornou mais intenso, e o padrão seguido era o das alforrias gratuitas. No entanto, em Petrópolis, as elites da cidade se uniram para indenizar a si próprias durante o movimento de libertação dos escravizados, por meio da realização de festas, bailes e eventos com a intenção de angariar fundos para suprir o que chamavam de “prejuízo”.

8. Palácio de Cristal – Quilombo Central

O Palácio de Cristal e seu entorno formavam um quilombo antigo, cuja existência foi noticiada no jornal Parahyba, em 1838. Na publicação feita por Jean Baptiste Binot, foi registrada a existência de uma área cultivada, com estrutura agrária e a formação de uma sociedade organizada e liberta, em terras onde ainda não haviam sido demarcados os limites do Palácio. Isso demonstra que houve pessoas que se refizeram livres e formaram uma comunidade que marcou o espaço de liberdade.

Foto: arquivo Sou Petrópolis

9. Cerveja Africana

Petrópolis é conhecida como a “Capital da Cerveja”, tendo fábricas e uma vasta produção artesanal. A origem dessa bebida remonta ao Kemet, no antigo Egito, por volta de 5.000 a.C., a partir do processo de fermentação do malte. A cerveja era tão importante naquele contexto que havia registros em hieróglifos simbolizando a bebida e a figura do mestre ou mestra cervejeira – a pessoa responsável por sua produção. Esse conhecimento, parte dos saberes e tecnologias africanas, estrutura e impulsiona a economia local até os dias de hoje.

10. Cemitério de Africanos

O terreno cedido para a construção da atual Igreja do Sagrado Coração de Jesus abrigava o antigo cemitério da cidade. No local onde atualmente está um convento de franciscanos, estavam enterrados 84 africanos de diferentes etnias, identificadas como Angola, Moçambique, Congo e Cabinda. Há registros de sepultamento entre os anos de 1885 e 1892, sendo que 44 deles ocorreram a partir de 1888.

Foto: Serra Drone

11. Dendezeiros

A identificação de várias inscrições afro que preservam as tradições e o legado africano na cidade trouxe novas informações sobre a fundação de Petrópolis. Um dos exemplos é a presença de três palmeiras de dendê na comunidade da localidade conhecida como “Canto do Cemitério”. Originária da Costa Ocidental da África (Golfo da Guiné), a palavra “dendê” vem do termo quimbundo déndé, que significa “palmeira”. Dela se extrai o azeite de dendê, amplamente utilizado na culinária e nas tradições afro-brasileiras.

12. Adinkras

Adinkras são ideogramas dos povos Akan, de Gana, na África, que trazem significados filosóficos. São ideias grafadas que compõem a língua de um povo. A palavra “adinkra” significa “adeus”. Em Petrópolis, elas são encontradas em arquiteturas e cerâmicas em vias, como a Avenida 7 de Abril.

13. Praça da Liberdade

A Praça da Liberdade é conhecida por ter sido o local onde homens e mulheres livres e libertos negociavam e compravam a liberdade de pessoas negras que estavam na condição de escravizados. Também há relatos de que a praça foi palco de comemorações dos libertos. Essas manifestações tornaram a praça representativa, sendo posteriormente reivindicada pela população negra para a implementação de murais, um busto de Zumbi e atividades culturais negras.

Foto: Serra Drone

14. Monumento de Zumbi

No ano de 2009, foi inaugurado, na Praça da Liberdade, o busto de Zumbi dos Palmares, em homenagem ao último líder do Quilombo dos Palmares. A arte foi projetada pelo artista plástico petropolitano Dennis Cross.

15. Mural da Liberdade

O Mural da Liberdade é um grafitti feito por artistas petropolitanos. A primeira pintura foi realizada pelo artista Doug, em homenagem a lideranças negras que lutaram contra o escravismo no Brasil. No mural, estão representados Zumbi, Dandara e Teresa de Benguela. Autorizadas pelo IPHAN, as artes foram feitas em 2016, no Dia da Consciência Negra.

No ano de 2022, o mural foi ampliado com a participação de mais artistas. O grafiteiro Karlin e Smek retrataram o tema “Expressões Artísticas Negras”; Sunk e Kelf abordaram o tema “Olhar Negro”; os artistas Lok e Foks trabalharam com o tema “Costumes Ancestrais”; e os grafiteiros Aira e Krast retrataram “Personalidades Negras”.

Foto: Arquivos Sou Petrópolis

16. Pelourinho

Registros do século XIX mostram que, na Praça da Liberdade, foi instalado um pelourinho, usado para tortura, violência e humilhação pública de pessoas escravizadas.

praça da liberdade

Foto: Arquivo Sou Petrópolis

Quilombos em Petrópolis

Em Petrópolis, há resquícios históricos de muitos quilombos que, durante longos períodos, se estabeleceram como territórios de resistência. São eles:

  • Quilombo da Tapera

Atualmente, o Quilombo da Tapera é o único que perdurou desde o período colonial e que está preservado até o presente. Cercado por montanhas e com um cenário exuberante, o Quilombo da Tapera é reconhecido oficialmente pela Fundação Palmares. Localizado no Vale da Boa Esperança, em Itaipava, é uma importante memória do povo africano em Petrópolis.

Dona Sebastiana foi a grande fundadora do quilombo há pelo menos 100 anos. Na região, vivem, em média, 14 famílias. Os quilombolas cultivam feijão, milho e aipim, cuidam de uma estufa de plantas medicinais, fazem artesanato e mantêm ativa uma biblioteca e uma cozinha comunitária.

Saiba mais: Você sabia que existe um quilombo remanescente em Petrópolis? Conheça o Quilombo da Tapera

Foto Divulgação
  • Quilombo da Vargem Grande

O Quilombo da Vargem Grande ficava na localidade homônima, no atual bairro Fazenda Inglesa, que chegou a ter 200 moradores no século XIX. Foi a primeira área urbanizada nas terras petropolitanas, abrigando uma comunidade atravessada pelo Rio do Quilombo. Foram os moradores da Vargem Grande que descobriram a fonte de captação de água bruta que ainda abastece parte de Petrópolis nos dias de hoje.

  • Quilombo Central

O Palácio de Cristal e seu entorno abrigavam um quilombo antigo, cuja existência foi noticiada no jornal Parahyba em 1838. Na publicação feita por Jean Baptiste Binot, foi registrada a existência de uma área cultivada, com estrutura agrária e formação de uma sociedade organizada e liberta, em terras onde ainda não haviam sido demarcados os limites do Palácio.

Como fazer o Circuito?

Para agendar o Circuito da Memória Negra entre em contato com a Associação de Guias de Turismo de Petrópolis pelo WhatsApp (24) 98842-3235 ou através do Instagram @guiaspetropolis, Facebook – Guias Petrópolis ou site.

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