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Jovem petropolitana ganha prêmio em filme de animação independente no Canadá

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Jovem petropolitana ganha prêmio em filme de animação independente no Canadá

Conheça a história de Rebeca Spiegel, cineasta de apenas 25 anos, formada em Vancouver, e com uma carreira brilhante pela frente

 Por Cristiane Manzini sob supervisão de Luísa Abreu

Rebeca sempre se interessou pela possibilidade de mostrar histórias através de vídeos. Ela conta que a relação com a escola era conflituosa. Nos vídeos ela encontrava espaço para manifestar criatividade e sentir que era boa no que fazia. O cinema reuniu suas paixões pelas artes e já rendeu até alguns prêmios para a jovem petropolitana.

Foto: Arquivo Pessoal

Por que Canadá? 

Na adolescência Rebeca quis melhorar seu inglês através de um intercâmbio. Fazia curso, mas não se sentia segura para conversar. Através de pesquisas com amigos e no Google descobriu que muita gente estava indo para o Canadá. 

Vancouver foi escolhida porque lá tem um clima bem agradável considerando o país em geral. “Tem montanha, tem praia e o inverno não é tão pesado”, comenta. 

Rebeca mora lá há 6 anos. Formou-se há 2 anos no Bacharelado de Cinema (Motion Pictures Arts) pela Capilano University, uma escola bem conceituada na cidade.

Foto: Arquivo Pessoal

A escolha da carreira

Com 12 anos, ao assistir “O fabuloso destino de Amélie Poulain” (2001), Rebeca começou a perceber que havia uma equipe por trás do que ela estava vendo na tela. Assim começou a olhar os filmes com outros olhos, correndo para ver as cenas de bastidores.

Foto: Arquivo Pessoal

Editando os próprios projetos em um aplicativo no computador, Rebeca sentiu que era boa em alguma coisa. “Eu não tinha muitas vitórias no dia a dia. Tirar uma nota realmente boa era muito raro. Cinema, edição de vídeo, desenhar, ler e escrever eram o meu refúgio”, lembra.  

Ela é muito grata à família que não só deu o suporte necessário para ir estudar fora, mas a incentivou à carreira artística. Ela aponta, no entanto, que nem todas as famílias fazem isso pela insegurança que a arte representa. 

Estudar fora do país

A parte mais difícil de morar longe é a saudade da família, da casa, da rotina, dos gatos que são sua paixão. A falta da comida brasileira também representou uma dificuldade no começo. Ela conta que estar sozinha em um país diferente, sem pessoas conhecidas traz uma certa insegurança, mas recomenda a experiência a quem tiver a possibilidade de estudar fora.

Foto: Arquivo Pessoal

Ela explica que vale muito a pena não só pelo currículo, mas para sair da bolha. Para isso deve pesquisar muito sobre onde quer ir, procurar brasileiros nesses lugares, conversar sobre os pontos positivos e negativos. “Brasileiro é muito aberto, mas outros povos não são. Tem que estar preparado para culturas diferentes. Muitas vezes a gente acha que o Brasil está ruim, isso e aquilo, e quando chega lá sente saudade de coisas que nem dava valor”, destaca. 

Depois deve pesquisar a documentação, vistos de estudo e trabalho, por quanto tempo etc. O Canadá permite o trabalho parcial enquanto se estuda e ressalta que a questão financeira é complicada. Se possível, recomenda visitar a cidade antes. 

Inspirações

Guillermo del Toro, cineasta mexicano que dirigiu “O Labirinto do Fauno” é uma grande inspiração para Rebeca. Ela aponta o realismo fantástico como um dos seus gêneros favoritos e diz que o filme aborda assuntos sombrios de uma maneira mágica e bonita. 

Baseada nisso, Rebeca fez seu primeiro filme “It gets dark too early” que é sobre traumas, porém sob uma lente fantasiosa. Segundo ela, é visualmente agressivo e maximalista, mas amarra todo o sentido no final. 

Foto: Arquivo Pessoal

Uma curiosidade sobre o filme é que Isabella Rossellini, atriz italiana mundialmente famosa, o assistiu e manifestou ter gostado, um marco importante para a cineasta. 

Sobre a carreira, uma atriz que ela gostaria de trabalhar é a brasileira Fernanda Torres. Ela explica que brasileiro tem uma força no diálogo, seja numa discussão ou numa comédia, que não é fácil de reproduzir.

Cinema independente

Rebeca aponta que o cinema independente é mais livre, porque não há a preocupação do retorno financeiro sobre o investimento. Há mais controle criativo, porém, há questões de financiamento que podem impedir a execução do projeto. “Nenhum filme vai agradar todo mundo e tudo bem. O filme independente traz essa paz”, comenta. 

Em Vancouver existem várias maneiras de conseguir recursos para os filmes, como bolsas de incentivo à cultura, trabalho voluntário dos colegas da comunidade de cinema e até vaquinhas online.

Foto: Arquivo Pessoal

Cinema Brasileiro

Rebeca diz que o cinema brasileiro tem muito potencial e aponta que “Cidade de Deus” é um filme que todo mundo conhece no Canadá. Ela destaca a falta de investimento como principal empecilho para o crescimento da área, porém afirma que o maior problema não é a produção, mas a distribuição. 

Rebeca ressalta que o cinema faz parte da construção de uma cultura. “Em Literatura a gente aprende muito sobre autores nacionais, mas não se fala muito de cinema”, destaca. Ela diz que já melhorou, mas fica triste com o potencial desperdiçado. 

Como exemplos de produções nacionais memoráveis cita as séries “Cidade Invisível” (Netflix) e “Capitu” (Globo) mostrando que o investimento faz diferença na execução de uma peça audiovisual.

Trabalho

Rebeca tem se dedicado à animação pela técnica Stop Motion, onde o filme é feito a partir de fotografias em sequência e todos os movimentos nos elementos de cena são feitos por quem está filmando. “Cada segundo de filme é composto, em média, por vinte e quatro fotografias”, comenta. 

Ela aprendeu a técnica por conta própria e já fez três animações até agora. O maior motivo disso é a liberdade de fazer sozinha no próprio quarto. Ela gosta de trabalhos em grupo, mas isso exige uma série de outras demandas, inclusive recursos. “Eu quero fazer arte, mas não quero que nada me impeça de fazer”, destaca. De todas as tarefas que envolvem um filme, ela prefere as que têm um caráter criativo. 

Foto: Arquivo Pessoal

Premiação

O filme mais recente de Rebeca é o “Lost Media” (Mídia Perdida), que é uma animação Stop Motion. Foi feito em 48 horas para a competição “Run n’ Gun 48 Hours Competition”, que é um prêmio local. Concorreu em seis categorias, ganhou o melhor roteiro e ficou em segundo lugar no favorito da audiência. 

O filme é sobre Laika, a primeira cadelinha enviada para o espaço. A regra do concurso exigia que o filme retratasse uma realidade paralela e Rebeca criou uma história lúdica em que o desfecho é diferente do que conhecemos. 

Foto: Arquivo Pessoal

Ela conta que embora não quisesse criar um filme dramático, a animação comoveu e mexeu com a emoção das pessoas. “O sonho de qualquer artista é poder trazer emoções fortes para as pessoas que estão assistindo ao filme”, conta empolgada com a repercussão. 

Foto: Arquivo Pessoal

Como o filme ainda está sendo enviado para festivais ele não está disponível na internet, mas Rebeca quer colocar legenda em português para facilitar o acesso ao público brasileiro. 

O futuro da carreira

No momento Rebeca está feliz em fazer parte da pequena comunidade de cinema independente, pois ainda está se encontrando como artista. No entanto ressalta que não recusaria um trabalho no Laika Studios, renomado estúdio que fez filmes de animação como Coraline e Kubo e as Cordas Mágicas, este último dublado em português pela petropolitana Marcia Coutinho

Rebeca diz, porém, que não está com pressa e que grandes estúdios não fazem parte das suas ambições. “Ir para Hollywood não está na minha lista”, comenta. 

A jovem tem se perguntado se consegue representar a arte brasileira lá fora e descobriu que ser ela mesma é a melhor forma de fazer isso. Mesmo que as histórias criadas por ela não sejam tipicamente brasileiras, todo o seu histórico de vida no Brasil faz com que o produto seja diferenciado. “Os meus roteiros não precisam ter arroz e feijão para serem brasileiros”, conclui.

Foto: Arquivo Pessoal

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