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Dia do Dublador: conheça a história de mãe e filha petropolitanas que se dedicam à arte da dublagem

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Dia do Dublador: conheça a história de mãe e filha petropolitanas que se dedicam à arte da dublagem

Marcia Coutinho e Paula Troyack já fizeram dublagem de personagens muito conhecidos pelo público, como “Mulher Elástica” (Os Incríveis), “Fada Madrinha” (Shrek) e “Carol” (Stranger Things)

 Por Cristiane Manzini sob supervisão de Luísa Abreu

Para Marcia Coutinho, dubladora petropolitana há cerca de 32 anos, a dublagem é sempre um desafio. A voz de cada pessoa é única, assim como a impressão digital. Pela voz conseguimos perceber a intenção da fala, a emoção envolvida, os elementos acessórios das palavras. 

Marcia Coutinho – Foto Arquivo Pessoal

A voz aproxima quem escuta de quem está falando. Os códigos de cada idioma e o contexto em que cada frase se insere são alguns dos desafios do trabalho de dublagem. Ela explica que dublar é transmitir na voz, dentro de um tempo específico, toda uma intenção da cena sem utilizar a própria imagem como recurso.

Em família

Paula Troyack, de 28 anos, é filha de Marcia. Dubladora desde os 8 anos de idade diz que a escolha da profissão foi um caminho natural, já que cresceu em meio aos estúdios de gravação. Admiradora do trabalho da mãe, Paula percebeu após a vida adulta que desejava continuar atuando neste meio. 

Para ela, os maiores desafios estão relacionados também à complexidade de transmitir na fala todas as intenções do personagem. 

“O maior desafio é a questão de só ter a voz como recurso para representar tudo o que está acontecendo na cena. Então às vezes vai ter mais de uma camada. O personagem está com frio, está triste e machucado. Tudo ao mesmo tempo”, explica. Além disso, a sincronicidade, ou seja, encaixar o som ao movimento da boca, também é bastante difícil considerando que cada língua tem um ritmo e um momento de pausa entre as palavras, diferente do português.

Marcia Coutinho e Paula Troyack- Foto Arquivo Pessoal

Personagens especiais

Mãe e filha dizem que todo personagem é especial porque tem a sua história, exige entrega e muita dedicação, mas ambas destacam dublagens que sofreram transformações ao longo da trama como trabalhos que marcaram. 

Para Marcia, “Kubo e as Cordas Mágicas” (2016) foi desafiador, pois ela não podia dar sinais que antecipassem estas mudanças. Já Paula escolheu a personagem “Phoebe”, da primeira temporada da série “The Sinner” (Netflix), onde ela teve que dublar as duas atrizes que interpretaram as diferentes idades da menina. Não só a mudança da voz causada pelo crescimento de Phoebe foi um desafio em si, mas também o contraste entre a fragilidade física da personagem e sua personalidade forte.

Marcia Coutinho – Foto Arquivo Pessoal

Começando na carreira

Tanto Paula quanto Marcia afirmam que dublar é bastante difícil. Para começar na carreira, antes de qualquer coisa, é preciso ser ator. Inclusive o registro (DRT de Ator) na profissão é necessário, porque não se trata apenas de falar uma frase. É necessário transmitir emoção, interpretar. 

Marcia Coutinho – Foto Arquivo Pessoal

Marcia destaca a dificuldade de ingressar no mercado, pois é preciso ganhar a confiança dos diretores. Ela considera um período médio de cinco anos para consolidar o nome na carreira. Tem que haver um profundo trabalho de atuação, porém com a voz. Exige muita atenção, muita concentração e, para isso, mãe e filha falam sobre o respeito ao ofício, a humildade e a perseverança na busca pela qualidade através de uma prática atenta e cuidadosa. 

Marcia Coutinho – Foto Arquivo Pessoal

Paula, inclusive, atua nos bastidores da dublagem como diretora. Ela diz que a direção demanda mais tempo, porém dublar é mais difícil, pois às vezes você compreende o que precisa fazer, mas na prática não consegue imprimir aquela intenção na fala.

Sucesso de público

Marcia destaca, nitidamente apaixonada por seu ofício, a importância de chegar na casa das pessoas através da dublagem. Diz que nunca identificaram alguma personagem pela voz, mas que acontece dela falar em algum lugar público e a pessoa ter a sensação de que a conhece. E ao identificar que sua voz deu vida a algum personagem que a pessoa é fã o olhar dela se ilumina. 

“É um momento tão bonito, tão agradável ver no olhar da pessoa que você chegou lá, chegou na casa dela de alguma forma, então isso é muito especial”. 

E não é difícil a voz de Marcia ter chegado na casa de muitos brasileiros já que ela fez a dublagem de personagens conhecidos do grande público como “Mulher Elástica” (Os Incríveis), “Mamãe Pig” (Peppa Pig), “Fada Madrinha” (Shrek), “Garnet” (Steven Universo), e tantos outros. 

Fotos: Reprodução/Internet – Divulgação

Paula também coleciona trabalhos bastante conhecidos do público, alguns deles compartilhados com a mãe. Ela deu voz à “Emily Elefante” (Peppa Pig), “Carol” (Stranger Things) e como diretora de dublagem atuou na minissérie da MAX “O Regime” (2024).

Sobre o futuro da profissão

A inteligência artificial vem ocupando uma série de espaços na vida moderna. As dubladoras demonstram preocupação com o futuro da carreira, pois a utilização de máquinas e de vozes artificiais já é uma realidade. 

Marcia ressalta que considera difícil que um dia a IA seja capaz de reproduzir fielmente a voz humana, porém reconhece que é assustador sobretudo porque sempre haverá um público que não preza pela qualidade do trabalho. 

Ela aposta em uma legislação mais firme na proteção dos profissionais da área. 

“É assustador porque muitas pessoas não sentem diferença na qualidade do que estão consumindo. É preocupante”, declara. 

Paula concorda com a mãe, mas acha difícil que a máquina possa substituir os dubladores porque ela não é capaz de captar as sutilezas, os regionalismos ou mais de uma emoção, de uma camada, ao mesmo tempo.

Fã de carteirinha

Ninguém duvida que Marcia e Paula são apaixonadas pela profissão que escolheram atuando com maestria. O que chamou atenção foram as características que mais admiram uma na outra. Curiosamente as duas elegeram a sensibilidade da parceira de trabalho como característica mais admirável. 

Marcia fala da filha com todo orgulho. “Admiro a sensibilidade da Paula. Ela sente nos mínimos detalhes o alcance, a entonação. Admiro o carinho e a entrega com que faz todos os trabalhos”, ressalta. 

Já Paula é fã da mãe desde sempre e diz que ela a inspirou a ser melhor. “Minha mãe manda muito bem!”, diz. Em especial destaca um trabalho que Marcia fez na série “Orange is the new black” (Netflix) cuja cena, de alta emoção, exigiu que ela cantasse chorando. E conclui que o comprometimento e a entrega da mãe a esta arte são realmente admiráveis. 

Marcia Coutinho e Paula Troyack- Foto Arquivo Pessoal

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