Connect with us

Falta de representatividade: mulheres são maioria na população e minoria na política 

Cidade

Falta de representatividade: mulheres são maioria na população e minoria na política 

[Mês das Mulheres] O último Censo mostrou que a cidade tem 147.802 mulheres vivendo na cidade. Apenas duas delas ocupam o cargo de vereadoras na Câmara Municipal de Petrópolis

As mulheres continuam sendo minorias ocupando cargos públicos em Petrópolis. Dos 21 nomeados pelo atual governo para ocupar as secretarias municipais apenas sete são mulheres brancas. As outras 14 secretarias são lideradas por homens. Na última eleição municipal, ocorrida em 2020, apenas uma mulher disputou a vaga para a Prefeitura, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nesta semana em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher – 8 de março, é notório o quanto a desigualdade de gênero na política ainda permeia no município. E segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o número de mulheres na cidade é maior do que o de homens. O Censo de 2022 aponta que a população de Petrópolis tem 278.88 habitantes, sendo 147.802 mulheres e 131.079 homens.

Foto Divulgação Prefeitura de Petrópolis

Na Câmara de Vereadores, apenas cinco mulheres ocuparam cadeiras desde 1989. A primeira mulher vereadora foi Carmen Felicetti (1989 a 1992). Também passaram pelo legislativo: Wilma Borsato (1993 a 1996), Renata Fadel (2001 a 2004), Gilda Beatriz (2012 até hoje) e Julia Cassamasso (2020 até hoje).

Mulheres que ocuparam vagas na Câmara Municipal antes da vereadora Gilda Beatriz – Foto: Divulgação Ascom CMP

Nos pleitos de 2004 e 2008, Gilda foi candidata, mas ficou como suplente. Em 2016, chegou a ser a vereadora mais votada. E em 2020, ficou com a 2ª posição entre os vereadores que mais receberam votos – 2.825. Gilda foi a primeira mulher reeleita na história da Câmara de Petrópolis. E desde 2012 divide a plenária ao lado de 13 homens.

“Tivemos apenas 4 mulheres eleitas em Petrópolis. Fui a única que conseguiu a reeleição. Esse esse número é muito pequeno, com toda certeza precisamos de mais mulheres na política de nossa cidade. Importante falarmos que em 2016 eu fui reeleita, sendo a mais votada na frente de todos os candidatos, com 5.613 votos”.

Gilda é psicóloga e especialista em educação inclusiva e diz que a posição que ocupa é um desafio diário.

“Ser mulher e exercer a função de vereadora na Câmara Municipal me traz todos os dias um desafio diferente. Antes de ser vereadora, sou mulher e mãe. As dificuldades são maiores para nós, pois precisamos conciliar nossas vidas. Infelizmente, já sofri muita descriminação na Câmara por ser mulher, garanto que não é uma função fácil”, afirma.

 Foto: divulgação

Para Gilda, com um cenário desfavorável, onde há pouca representatividade, principalmente nos cargos do Poder Executivo, é o momento de estimular cada vez mais a participação das mulheres na política para que seja mais justa e equilibrada. Apesar dos desafios, ela acredita que, aos poucos, essa cultura onde só o homem se beneficia vem mudando.

“De uns anos para cá, existe o sistema de cotas para candidaturas femininas que os partidos políticos devem respeitar. Isso foi um avanço para aumentar nossa participação no sistema eleitoral. Porém, não pode ser apenas isso. Todas as mulheres deveriam serem consideradas como potenciais políticos em nossa sociedade. Mas ao invés disso, poucas se sobressaem, acredito eu, por ser um espaço cultural e tradicionalmente dominado por homens. No meu ponto de vista, isso explica a nossa situação hoje. Não é que as mulheres não se interessem por política, como se dizia antigamente. Na verdade há uma exclusão velada e silenciosa quanto a nossa participação nas urnas. Sempre aconselho a todas a entrarem para a política, se essa for uma vontade, vocação ou sonho. Não podemos deixar as decisões políticas que nos afetam também, somente nas mãos dos homens, como vem acontecendo”, conta.

Mudanças a passos lentos

Em 2020, o cenário começou a mudar em Petrópolis, mesmo que a passos lentos. Pela primeira vez, quatro mulheres se juntaram para fazer a diferença. Thaís, Maiara, Julia e Cris se candidataram ao cargo de vereadoras e o que parecia apenas uma tentativa de marcar o território feminino na política municipal, ganhou força com a expressiva votação recebida pela Coletiva Feminista Popular do PSOL. Foram 2.561 votos. Elas ocuparam a 5ª posição entre os vereadores mais votados, porém, não foram eleitas por questões de legenda. Hoje a Coletiva segue somente com Júlia, que ocupou uma vaga de vereadora suplente, na Câmara.

Foto: divulgação

Julia Cassamasso é professora petropolitana e mãe. Ela destaca a falta de participação das mulheres na política institucional como um reflexo do machismo estruturante da sociedade.

Foto: divulgação

“A realidade é que as mulheres são o maior percentual da população municipal, estadual, nacional e mundial e ainda assim, não compõem, sequer, a metade dos espaços decisórios na sociedade. Em Petrópolis, temos lutado para transformar essa realidade. Temos feito, além de todo trabalho legislativo que tem também como norte o Estatuto das Mulheres Parlamentares (Lei 853/2023), rodas de conversas, oferecemos cursos de formação feminista popular para estimular e fortalecer as mulheres na organização coletiva, e que tenha como um de seus fins, o parlamento. É urgente aumentar o número de mulheres que pensam políticas públicas que melhorem de maneira digna as nossas vidas”.

Para Julia é um desafio, não só de presença, por diariamente estar em um espaço habitado por tantos homens, mas pelo trabalho que é elaborado.

“Desde que assumimos o mandato não tivemos dificuldade em pensar e colocar em prática as políticas públicas voltadas para mulheres nos eixos de saúde integral, segurança alimentar, emprego e renda, maternidade e combate a violência. Entramos ano passado e nos deparamos com um campo vazio, o que nos assustou de início, mas que rapidamente entendemos que esta é a realidade dos lugares que não têm mulheres comprometidas pensando nas pautas que atravessam as nossas vidas”.

Composta pela minoria das mulheres, a professora avalia a política de Petrópolis como lenta, mas com avanços que devem ser comemorados.

Foto: divulgação

“Na nossa cidade 53% da população é composta por mulheres. Entretanto, somente 13% dos parlamentares são mulheres. Eu fui a quinta mulher a assumir uma cadeira na casa legislativa e, pela primeira vez na história, temos duas mandatárias em exercício. Se fomos a quinta candidatura mais votada é porque a população tem sede por um novo jeito de fazer política, um jeito que vem pela transformação radical da vida das mulheres. Para isso, é preciso promover a igualdade de oportunidade no cenário político e criar mecanismos que facilitem a inserção desse público no setor; combater o machismo e discriminação; desenvolver políticas que apoiem a conciliação entre a vida política e a familiar; promover a emancipação econômica das mulheres, proporcionando autonomia financeira; ampliar o acesso à informação; e engajar a sociedade civil, para pressionar, juntos, por mudanças em direção à igualdade”, diz Julia Cassamasso.

Candidatas à Prefeitura de Petrópolis

A história recente das eleições municipais mostra que a concorrência pela vaga no executivo é praticamente entre homens desde, pelo menos, 2004, conforme mostram dados do TSE. Nas eleições municipais de 2004 apenas uma mulher se candidatou à prefeitura – Renata Fadel, pelo PDT – ao lado de outros seis candidatos homens.

Em 2008, a história se repete. De novo, apenas uma mulher candidata: Ester Mendonça pelo PSOL. Ela disputou o cargo com quatro homens.

E a situação com relação à representatividade feminina piorou nas duas eleições municipais seguintes: de 2012 e 2016. Apenas homens se candidataram à Prefeitura.

Já em 2020, dos 13 candidatos, uma mulher: Professora Lívia Miranda do Partido Comunista do Brasil (PC do B). Ela teve 3,48% dos votos.

Veja também:

 

Continue Reading

Você também vai gostar

Subir