Você sabe o que aconteceu com as hortênsias em Petrópolis?
Paisagista explica o que vem dificultando o cultivo das plantas
Matéria atualizada em outubro de 2025
Conhecida como a Cidade das Hortênsias, Petrópolis recebeu esse apelido não por acaso. Durante décadas, as flores coloriram jardins, praças e avenidas, tornando-se um símbolo da cidade — especialmente na primavera e no verão, quando o cenário serrano ganhava tons vibrantes de azul, rosa e lilás.
Mas quem passa hoje pelas ruas, nota que as hortênsias praticamente sumiram. O último grande plantio aconteceu em 2018, quando cerca de 10 mil mudas, já produzidas na própria cidade, foram distribuídas. Desde então, o replantio — que marcou gerações e fazia parte da identidade petropolitana — está sendo um desafio.

Foto: Divulgação/Ascom PMP
Um símbolo que nasceu há mais de um século
Pouca gente sabe, mas o plantio das hortênsias em Petrópolis começou lá na década de 1910, por iniciativa do então prefeito Oswaldo Cruz. A flor se adaptou perfeitamente ao clima da Serra e logo virou um cartão-postal local.
Um detalhe curioso é que, naquela época, o segredo do vigor das hortênsias estava no adubo usado: estrume dos cavalos das charretes — o principal meio de transporte da população. Com o fim das charretes, a cidade perdeu também esse “fertilizante natural” e, aos poucos, as flores começaram a desaparecer.

Duas Pontes – Foto: Museu Imperial/Ibram/MinT
Mudanças climáticas
A paisagista Patrícia Assis explica que as mudanças climáticas e as alterações no solo têm impactado diretamente o cultivo das hortênsias. Ela destaca que os fatores que mais prejudicam as espécies são o frio prolongado, o estresse hídrico causado tanto pela falta quanto pelo excesso de chuva, além de pragas, doenças e solos contaminados com metais pesados.
“O extremo calor e a falta de umidade em algumas áreas comprometem o desenvolvimento das plantas, que são muito sensíveis às variações climáticas. As hortênsias se desenvolvem melhor em locais de altitude, com boa luminosidade e temperaturas amenas. Tanto o frio intenso quanto o calor excessivo provocam alterações significativas no crescimento e na floração”.
Tentativas e desafios
Nos últimos anos, diferentes gestões tentaram retomar o plantio, mas as mudas não vingaram. Nem mesmo os botânicos chegaram a um consenso sobre o motivo.
O atual governo municipal informou que, neste ano, a Comdep deu início a uma nova tentativa, com o plantio de cerca de três mil mudas em pontos tradicionais da cidade, como as avenidas Koeler e Ipiranga, a Rua Dom Pedro e o Relógio das Flores. A ação faz parte de uma iniciativa para resgatar o símbolo petropolitano. Porém, parte das mudas não se desenvolveu como o esperado.
“O clima da cidade mudou, as ondas de calor e a instabilidade ambiental têm dificultado o cultivo. Por isso, o setor de Parques e Jardins da Comdep está elaborando um novo planejamento, com foco em adquirir novas mudas e escolher pontos com melhor adaptação ao novo cenário climático”, informou.

Vista da serra de Petrópolis – Foto: Museu Imperial/Ibram/MinT
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