Mulheres de Petrópolis: conheça a cozinheira que transformou a dor da perda na tragédia em solidariedade
A enxurrada de 2022 levou quase tudo da Cristiane Gross menos o sentimento de amor ao próximo que a fez criar o projeto “A Glória da Segunda Casa” para ajudar as vítimas das chuvas
Foi da dor que a cozinheira petropolitana, Cristiane Gross, de 49 anos, tirou forças para ajudar às vítimas da tragédia de 2022 em Petrópolis. Ela perdeu nove parentes – entre eles a filha, um neto e quatro sobrinhos e também ficou sem sua casa, no Morro da Oficina, um dos locais mais atingidos pelas chuvas do ano passado.
A enxurrada levou quase tudo da Cristiane, menos o espírito de solidariedade e de amor ao próximo. Fundadora do projeto social “A Glória da Segunda Casa”, desde fevereiro de 2022, ela trabalha ajudando as vítimas das chuvas.
Fotos: Divulgação
Natural do Rio Grande do Sul, Cristiane mora em Petrópolis há 36 anos. “Em 1987 , meu pai foi transferido para a cidade e trouxe toda família. Logo depois, ele voltou para o Sul e eu fiquei. Abracei Petrópolis. Foi amor à primeira vista pela cidade. Conheci meu marido aqui e tive as minhas filhas Mariana, Carolina e meu neto. Infelizmente, no dia 15 de fevereiro de 2022, minha família foi devastada com a perda da Mariana e do seu filho”, diz.
Cristiane conta que passou três dias em estado de choque sem conseguir comer ou fazer qualquer outra coisa. “Mas houve um momento que me levantei para lutar por melhorias nesse lugar – que ainda hoje está abandonado. Essa luta é pelos nove que perdi e por todos os amigos que se foram”, diz a cozinheira, que se transformou em uma liderança local.
Ação
Ao todo, o projeto conduzido por Cristiane atende 190 famílias. No espaço, no Alto da Serra, são arrecadados alimentos e roupas e é oferecido também o serviço de assistência psicológica.
“Foi voltando para casa, na noite da tragédia, que parei em uma residência e pedi um copo de água a uma pessoa que nunca tinha visto – que se chama Márcia Canelas. Foi a partir daquele dia, daquela pequena ação, que montamos um ponto de apoio na casa dela para ajudar as vítimas e as equipes de resgate que trabalhavam bairro”, conta Cristiane.
Fotos: Divulgação
Passado o momento crítico da tragédia, o ponto de apoio na casa da Márcia foi desfeito, mas Cristiane relata que, mesmo tendo perdido parentes e sua casa, não conseguia se desprender do local.
“Foram 30 anos morando ali. Apesar da minha dor, preferi continuar ajudando as pessoas da localidade. Aluguei uma casinha, atrás do BNH, e dei início ao projeto social”, diz.
Exemplo de trabalho
E foi esse projeto social que levou Cristiane a ser uma das finalistas do prêmio “Faz Diferença”, realizado pelo jornal O Globo em parceria com a Firjan, que visa premiar brasileiros que, com dedicação e trabalho, servem de exemplo e inspiração.
A cozinheira ressalta que a indicação foi a forma de continuar enfrentando a dor vivenciada todos os dias. “Na época, nem sei como fui indicada ao prêmio. Mas fiquei muito feliz e agradecida. É o reconhecimento pelo trabalho que estamos fazendo”, diz.
Foto: Divulgação
Apesar de toda dificuldade, Cristiane mantém o projeto e lamenta não conseguir atender a todos. “São muitas famílias que precisam de ajuda. Nem todo mês conseguimos suprir as necessidades. Estamos tendo que fazer sorteio para atendê-las. A fome não espera, quando é necessário compro do meu bolso e contamos com ajuda de amigos [para as doações]”.
Doações
Quem quiser ajudar o projeto “A Glória da Segunda Casa” pode entrar em contato com a Cristiane por meio dos telefones (24) 99321-5118 ou (24) 98828-6256.