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Dia da Visibilidade Lésbica: petropolitanas compartilham vivências e desafios de ser uma mulher lésbica

História

Dia da Visibilidade Lésbica: petropolitanas compartilham vivências e desafios de ser uma mulher lésbica

Data marca a luta contra a lesbofobia. No Brasil, em média seis mulheres lésbicas são estupradas por dia e, em 2017, 35 foram assassinadas.

Há 26 anos, dezenas de mulheres lésbicas de todo o país se reuniram para promover, pela primeira vez, o Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE). O evento foi um marco na luta pelos direitos das mulheres lésbicas e deu origem ao Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado todo dia 29 de agosto.

Ainda hoje, com o conservadorismo em alta, o padrão heteronormativo e os desafios impostos à população LGBTQIA+, é necessário continuar lutando pela visibilidade desta comunidade e, em especial neste dia 29, pelas mulheres lésbicas.

Foto: Freepik

A petropolitana, advogada e defensora dos Direitos Humanos, Karol Cerqueira, relata que se aceitar e se reconhecer como mulher negra e lésbica em Petrópolis foi desafiador.

“Em uma cidade extremamente conservadora, onde os políticos que quebraram a placa de Marielle Franco foram bem votados, sendo ela também uma mulher negra e lésbica, é aterrorizador. Mas não recuei, hoje tenho muito orgulho de ser quem eu sou e de me posicionar em Petrópolis. Ser lésbica assumida aqui é lutar todo dia, tanto por espaço, quanto por respeito. Tem que ter coragem e força”, afirma.

Para a professora e doutoranda em Educação Lívia Miranda, o processo foi parecido. “Ser uma mulher lésbica em Petrópolis é diferente do que na capital, e mais ainda do que em cidades muito menores e mais do interior. É um processo, por vezes, doloroso e difícil. Não é a regra, já que têm famílias que lidam com mais facilidade. Mas a grande maioria dos processos são de conflito e exclusão”.

Ela explica que este preconceito vem pela visão de que mulheres lésbicas não servirão ao papel que a sociedade espera delas. “Que é o papel de reprodutora e de ser uma mulher que apoia um homem a progredir. Mas ser lésbica não significa não querer ser mãe, e também não significa ter aversão a homem. Tem mulheres que constituem famílias com outras mulheres e têm filhos”, comenta.

Estupro corretivo

Todas as letras da sigla LGBTQIA+ sofrem preconceito de diferentes formas. Para as mulheres lésbicas, uma das principais violências físicas é o chamado estupro corretivo. “A violência contra a mulher lésbica acontece, por vezes, com um familiar homem que abusa para tentar afirmar que aquela mulher tem um apetite sexual por um homem”, explica a professora.

Um levantamento da empresa Gênero e Número, com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), mostra que, em média, seis lésbicas foram estupradas por dia em 2017 no Brasil.

Do total de 2.379 casos, em 61% a agressão ocorreu dentro de casa e, também em 61% das ocorrências, a vítima foi estuprada mais de uma vez. Lívia aponta que é necessário denunciar essas violências, que geram esses dados e auxiliam no planejamento de políticas públicas.

Violência psicológica

Além da violência física, agressões verbais e psicológicas também atingem as mulheres lésbicas e toda a comunidade LGBTQIA+. De acordo com o Dossiê LGBT+ 2018, do Instituto de Segurança Pública (ISP), em 2017, somente no estado do Rio de Janeiro, 318 pessoas da comunidade sofreram violência moral e 140 violência psicológica.

Lívia aponta que essas violências podem gerar consequências fatais. “Muitas pessoas se matam. Aqui em Petrópolis mesmo, temos acolhido meninos que tentaram se matar por conta da homofobia. É importante divulgarmos que temos o Centro de Cidadania LGBT, que oferece orientação psicológica e assistência social e jurídica para essas pessoas”.

O local citado por ela funciona junto ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) na Rua Dom Pedro, 340, no Centro de Petrópolis.

Foto: Divulgação PMP

Outro estudo, este criado por pesquisadoras do Núcleo de Inclusão Social (NIS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e intitulado “Dossiê Lesbocídio no Brasil de 2014 até 2017”, aponta que, em 2017, 19 lésbicas cometeram suicídio por conta da lesbofobia no Brasil.

Lesbocídio

A mesma pesquisa mostra que, também em 2017, 35 mulheres lésbicas foram assassinadas por conta da sua orientação sexual. Um aumento de 52% na comparação com o ano anterior.

É válido destacar que todos estes números citados são subnotificados e os números reais podem ser ainda maiores, visto que, em todas as pesquisas é ressaltada a dificuldade em encontrar informações sobre estes crimes.

Preconceitos velados

Algumas violências acontecem de forma naturalizada. As entrevistadas elencaram algumas frases e ações que, para muitos não parecem ofensivas, mas que ferem a comunidade lésbica.

Dentre elas estão perguntar quem é o homem da relação, afirmar que a sexualidade é só uma fase ou que foi porque “nenhum homem as pegou direito”, e também fetichizar duas mulheres que estão se beijando e achar que falta a presença de um homem ali.

Foto: Freepik

Importância da data

Lívia declara que o Dia da Visibilidade Lésbica serve para afirmar a posição destas mulheres na sociedade. “Mulheres que lutam pelo direito de ser quem são, de amar quem amam e de demonstrar isso. Em um passado não muito distante isso não podia ser demonstrado em público, éramos violentadas fisicamente e verbalmente, e isso tem muitas consequências para a nossa vida”.

Karol reitera que o dia enaltece a luta das mulheres que se assumem. “Mulheres negras, brancas e trans lutam todos os dias contra a lesbofobia. O dia da visibilidade lésbica coloca discussão no protagonismo, para que possamos falar dos nossos corpos, dos nossos direitos e que reivindiquemos garantias na saúde, nos direitos humanos e na diversidade”, finaliza.

Veja também: Sessão de cine debate pelo Dia Nacional da Visibilidade Lésbica será nesta terça em praça pública de Petrópolis

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