Varíola dos macacos: após confirmação do primeiro caso em Petrópolis, virologista fala sobre a doença
Clarissa Damaso é chefe do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e estuda o vírus há 30 anos
Com o aumento da disseminação da varíola dos macacos no Brasil, Petrópolis confirmou, no último sábado (20), o primeiro caso do vírus na cidade. Para tirar dúvidas sobre a doença, o “Em Dia com a Saúde”, da TV Unifase, conversou com a virologista e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Clarissa Damaso, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da UFRJ.
Clarissa estuda o vírus há 30 anos e é assessora do Comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS) para pesquisa com vírus da varíola.
Foto: Marcelo Carnaval/Agência O Globo
Perigoso, mas menos virulento
A pesquisadora explicou que a taxa de letalidade é bem menor que o da varíola comum, erradicada nos anos 80. Apesar de ser da mesma família, a maneira de ação dos vírus é diferente. Identificado pela primeira vez em humanos no ano de 1970, no Congo, o vírus já era observado desde 1958, após ser encontrado em macacos usados para pesquisa na Dinamarca, por isso foi batizado com esse nome.
O surto atual
Trabalhando há 30 anos com a doença, Clarissa afirma que não ficou surpresa com o surto, já que os alertas começaram há cinco anos, na África.
“A questão é que os problemas só chamam a atenção do mundo quando saem da África, e esse é o grande mal para várias doenças. Os casos aumentam porque o homem invade as florestas, desmata. É uma série de coisas, inclusive o abandono da vacinação contra a varíola, que não é oferecida desde os anos 80”, explica.
Transmissão da doença
Uma das grandes preocupações das pessoas é em relação à transmissão do vírus, que vem se espalhando rápido pelo mundo. Atualmente, são 39 países e mais de 2.500 casos confirmados ao redor do globo.
A pesquisadora comenta que o crescimento é além do esperado, mas a manifestação, por ser mais fraca que na África, tem feito as pessoas agirem com negligência em relação aos cuidados para não espalhar o vírus.
Foto: Reprodução Internet
“Sabemos que quando a doença não é tão forte, as pessoas saem, trabalham, fazem suas coisas. Mas a varíola dos macacos é uma doença de contato, transmissível por saliva, toque e respiração. As pessoas saírem está permitindo o espalhamento. Não houve óbitos, mas nós temos que conter o vírus, principalmente através do isolamento”, explica.
Sintomas
Clarissa diz que os sintomas clássicos são febre alta, feridas, moleza e dor nas costas. As feridas, inclusive, contém o vírus, por isso a importância do isolamento. Apesar disso, a virologista também pede atenção para feridas na região genital, mesmo que a manifestação seja mais branda fora da África, assemelhando a varíola dos macacos com a catapora e herpes.
Foto: Reprodução Internet
Tratamento
Ainda não há um tratamento específico para a doença, mas Clarissa recomenda que as pessoas tratem os sintomas. Se existe dor, trate a dor, se existem machucados, trate os machucados.
“A maior preocupação é com idosos, grávidas e crianças. Ainda não existem remédios no Brasil, mas já estamos nos manifestando para fazer a compra. São dois antivirais já aprovados nós Estados Unidos e na Europa e podem ser utilizados como alternativas”, detalha.
A importância da pesquisa
A pesquisadora finaliza explicando sobre a importância da pesquisa nesses casos. De acordo com ela, se não existissem pesquisas há 30 anos, a resposta não seria rápida.
Foto: Dado Ruvic/Reuters
“Precisamos de investimento para ter esse conhecimento. A população e o governo precisam entender a importância de investimento em ciência, porque assim ficamos mais protegidos. É impossível que um Ministério da Saúde saiba sobre todas as doenças, mas dá pra se preparar”, conclui.