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‘Amnésia do Céu Azul’: movimento busca evitar que tragédias de 2022 sejam esquecidas

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‘Amnésia do Céu Azul’: movimento busca evitar que tragédias de 2022 sejam esquecidas

Nas redes sociais, o perfil criado por petropolitanos cobra medidas efetivas e sugere uso da tecnologia como aliada para salvar vidas

Criado no início de março, o Movimento Amnésia do Céu azul é uma iniciativa de seis petropolitanos para informar e sugerir ideias para prevenir tragédias na cidade.

Foto: @landau

On-line, o movimento mantém um perfil em uma rede social onde publica avisos de chuvas, informa sobre os pontos de abrigos, lembra as vítimas das tragédias registradas em 15 de fevereiro e 20 de março e cobra dos governos atitudes de prevenção.

Já na esfera off-line, o movimento chegou a enviar um ofício e um documento com 18 páginas (cerca de 60 itens) para a Câmara de Vereadores.

Neles, estão sugestões que contemplam principalmente ações que facilitem a disponibilização da informação para os moradores da cidade, assim como algumas melhorias estruturais no aparato dos órgãos de gestão de crise do município.

Em entrevista exclusiva à Sou Petrópolis, o grupo detalha os planos para o futuro, o interesse manifestado por voluntários e as sugestões que já foram feitas ao poder público para minimizar as consequências das chuvas fortes. Os integrantes do Amnésia do Céu Azul optaram por não de identificar.

Desde que foi criado, o movimento já soma mais de 1.800 seguidores em uma rede social e tem atraído a atenção também de pessoas que querem se voluntariar para participar da iniciativa. “Há quem queira contribuir com o memorial, com a alimentação do site, com produção de conteúdo”, diz a equipe do movimento.

Veja perguntas e respostas

1) Como surgiu o movimento?

Movimento Amnésia do Céu Azul: Tudo surgiu a partir do termo ‘amnésia do céu azul’, de autoria do geógrafo Marcelo Motta, da PUC-Rio.  É difícil ouvir esse termo e ficar indiferente.  A ideia principal é não deixar que caiam no esquecimento esses eventos que vitimam, com cruel regularidade, centenas de pessoas. Junto disso, a elaboração de propostas para ajudar o nosso município a se preparar melhor para as próximas tempestades e também contribuir de alguma forma com o debate público sobre as chuvas em Petrópolis e suas consequências.

2) Quais foram as sugestões já enviadas à Câmara?

Movimento Amnésia do Céu Azul: Entre as sugestões enviadas pelo grupo à Câmara estão: a criação de um dia oficial em homenagem às vítimas das chuvas (que seria 15 de fevereiro), data em que haveria homenagens, mas principalmente prestação de contas do que foi feito durante o ano.

Do ponto de vista da prevenção, foi sugerida a instalação de webcams, que fariam transmissão ao vivo no canal do youtube da prefeitura (em pontos estratégicos de transbordamento de rios e outras áreas relevantes); estruturação de atendimento ao público mais completo pela Defesa Civil, com whatsapp, site, twitter, facebook, instagram, nos moldes do oferecido pela Águas do Imperador e Enel, não apenas com alertas sms.

Hoje, há muitas ferramentas que podem ajudar a melhorar essa ponte de informações entre a prefeitura e a população. Percebemos que informações relevantes demoram a ser publicadas (no Facebook e Instagram) e que outras vezes chegam antes por canais não oficiais.

3) Como a tecnologia deve ser aliada para prevenir tragédias?

A Prefeitura/Defesa Civil poderia ter um BOT de Whatsapp, que respondesse a perguntas rápidas (Digite “1” para ruas interditadas ; 2 – Em que lugar chove forte agora?; 3 – Pontos de apoio, etc) e que também contasse com atendentes em tempo real para esclarecer à população, registrar ocorrências e demais informações, nos moldes do atendimento da Águas do Imperador e Enel.

O Whatsapp é como se fosse a ‘internet toda’ dos brasileiros, incluindo as pessoas mais pobres, pois os pacotes muitas vezes ficam restritos ao aplicativo. Por isso é tão importante que um aplicativo seja disponibilizado.

Também foi sugerido que seja feita uma ponte da prefeitura com os canais de TVs e rádios locais, para entradas em chuvas fortes, com orientações diversas e alertas.

Em suma, utilizar toda tecnologia disponível para que todas as pontas da comunicação eficiente, que salva vidas, estejam devidamente amarradas. Mas não basta ter os canais: é preciso atualizá-los todos de forma instantânea, o que ajudaria tanto a população quanto a imprensa. São ferramentas acessíveis e baratas, o que nos leva a crer que disponibilizar tais serviços seja muito mais uma questão de organização e reestruturação do que um alto investimento financeiro.

4) Qual o objetivo do Memorial criado no site?

Juntamente com a proposta do Dia em homenagem às vítimas das chuvas em Petrópolis e da linha do tempo das chuvas (que também tem em nosso site, mostrando o problema secular desses eventos na cidade), o Memorial, que inicialmente é virtual, tem um papel fundamental para contar a história de vida dessas vítimas, cultivando lembranças e afetos.

É preciso mostrar que essas vítimas não são apenas números: são pessoas, com histórias, com sonhos, que deixam famílias saudosas aqui na cidade. Saber suas histórias de vida, como eram, seus sonhos, isso nos encherá de força para lutarmos para evitar ou ao menos minimizar as tragédias em nossa cidade.

Temos dito que o que aconteceu em 2022 abriu uma ferida que levará muito tempo, se é que terá cura, na alma de quem mora nesta cidade. É certo que muito desse sofrimento foi experimentado também em 1988, 2001, 2003, mas aqueles eventos não foram documentados propriamente, pois não havia nem tecnologia fácil e acessível pra isso.

5) Como inscrever uma história no memorial?

Um familiar ou amigo que queira contar um pouquinho sobre um querido que partiu nas chuvas da cidade, pode entrar no site www.memorialpetropolis.app e ir até o menu do ícone de flor (memorial), clicar no botão “Envie um história” e preencher o formulário (link direto para o formulário). Com base nas informações fornecidas, um texto tributo para cada vítima será criado e disponibilizado na página.

O grupo sugeriu também à Câmara de Vereadores, a criação de um memorial físico em algum ponto da cidade, que poderia ser baseado no memorial virtual. “Não é um monumento físico que propomos, mais uma estátua ou coisa parecida. Seria um espaço físico em que as histórias dessas pessoas nos lembrem e reafirmem que Petrópolis precisa mudar. Um problema só começa a ser encarado da forma devida quando há a clareza de que ele existe e toda a extensão dos danos que ele causa”, afirma o grupo.

6) De que forma o movimento acredita que será possível prevenir tragédias e salvar vidas na cidade? 

Um problema só começa a ser encarado da forma devida quando há a clareza de que ele existe e toda a extensão dos danos que ele causa.

É preciso que a “cultura” em relação às chuvas seja transformada e a percepção da gravidade desse problema socioambiental seja ampliada, tanto da parte do poder público quanto das pessoas, para que encaremos esses eventos da mesma forma como em alguns países que enfrentam terremotos, furacões, etc.

A recorrência das chuvas em 2022 só reforça a necessidade de propostas inovadoras, soluções diferentes e reestruturação urbana profunda e imediata, além de um olhar mais cuidadoso para a parte socialmente vulnerável da população, a fim de que seja interrompido esse ciclo de morte em Petrópolis.

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