Casa que abriga Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade pode ser vendida em processo de recuperação judicial
Espaço que fica no bairro Mosela, em Petrópolis, tem mais de 40 mil documentos. Arquivo é considerado o mais completo sobre a história do século 20 no Brasil
A casa que abriga o Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade (CAALL) na Mosela, em Petrópolis, está na lista de ativos incluídos no plano de recuperação judicial da Universidade Candido Mendes (Ucam) e pode ser vendida.
Foto: Divulgação
O espaço, que pertenceu a Alceu Amoroso Lima, crítico literário, líder católico, professor e jornalista, abriga um acervo com mais de 40 mil documentos, do período de 1908 a 1984. O arquivo é considerado o mais completo sobre a história do século 20 no Brasil.
Segundo a Ucam, em caso de venda, o tombamento do imóvel será respeitado e todo acervo transferido para o prédio da instituição no Rio, a fim de preservar a herança cultural do Centro.
Petição on-line
A possibilidade de venda da casa é motivo de indignação para entidades que lutam pelos direitos humanos. Elas estão se colocando contrárias à iniciativa por acreditarem que será uma perda cultural e histórica para Petrópolis e para o país como um todo. Por este motivo, foi criada uma petição on-line. A ideia é coletar o máximo de assinaturas que serão enviadas para a Ucam.
“A perda do CAALL será um golpe na cultura e na área de pesquisa histórica não só de Petrópolis, mas do Brasil. Vamos lutar pelo legado de Cândido Mendes e Alceu Amoroso Lima! Não desmontem o Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade”, diz a petição, que já coletou mais de 120 assinaturas.
Diretora do CAALL há 25 anos, Maria Helena Arrochelas destaca que dentro do contexto político atual, a venda da casa representa a perda irreparável de um centro que é referência em direitos humanos.
“A gente perde um espaço de memória, que não se restringe a Petrópolis, é uma marca de direitos humanos que extrapola o Brasil”, afirma.
Participação ativa na luta pela memória
Ao longo de sua trajetória, o espaço mantém participação ativa e apoio institucional fundamentais em iniciativas na luta pela Memória, Verdade, Justiça e Reparação em Petrópolis, cuja importância é de caráter nacional.
Entre 2015 e 2018, o CAALL teve participação fundamental na extinta Comissão Municipal da Verdade de Petrópolis e, atualmente, é ativo na luta do Grupo Pró-Memorial Casa da Morte de Petrópolis.
“Ao sabermos que, ante o estado de recuperação judicial da instituição, há a iminência da venda da sede, em nossa cidade, entramos em estado de profundo pesar e descontentamento, já que esta entidade é reconhecidamente uma referência no terreno comum dos direitos humanos, democracia e conhecimento, com um alcance que extrapola o nosso município e mesmo o Brasil”, diz trecho de carta enviada pelo Grupo Pró-Memorial Casa da Morte à direção da Universidade Cândido Mendes.
Sobre o CAALL
Entre os objetivos do CAALL está a preservação do legado de Alceu Amoroso Lima, através da organização e edição de seus escritos inéditos e reedição de suas obras; o patrocínio jurídico a manifestações que concorram para a conquista e o aperfeiçoamento dos direitos da pessoa humana.
Foto: Divulgação
O CAALL também tem como finalidade o estudo e a pesquisa sistemática de temas relativos à liberdade e à libertação, além da promoção de cursos, colóquios, seminários e debates que difundam a visão universalista de Alceu Amoroso Lima.
O local tem ainda uma contribuição essencial para a garantia dos direitos da população petropolitana, atuando junto aos conselhos municipais e outras instâncias e fóruns.
Quem foi Alceu Amoroso Lima?
Nascido em dezembro de 1893 no Rio de Janeiro, Alceu Amoroso Lima foi crítico literário, professor, pensador, jornalista, advogado, escritor e líder católico brasileiro. Ele escreveu mais de 70 livros ao longo da vida.
No acervo em Petrópolis estão correspondências trocadas com Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade e Juscelino Kubitschek.
Com o golpe de Estado em 1964, Alceu Amoroso Lima tornou-se símbolo de resistência ao arbítrio do Estado à violência e tortura.
Entre as suas principais publicações estão: Introdução à Economia Moderna (1930), Preparação à Sociologia (1931), Problemas da burguesia (1932), Introdução ao direito moderno (1933), No limiar da Idade Nova (1935), O Espírito e o Mundo (1936), Idade, Sexo e Tempo (1938), Três ensaios sobre Machado de Assis (1941), O existencialismo (1951), A segunda revolução industrial (1961) e Memórias improvisadas (1973).
Em seus escritos, chegou a adotar o pseudônimo Tristão de Athayde. Em 1965, sua obra foi considerada para receber o prêmio Nobel de Literatura. O escritor morreu aos 89 anos, em 1983, em Petrópolis.