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Mulheres continuam sendo minorias ocupando cargos públicos em Petrópolis

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Mulheres continuam sendo minorias ocupando cargos públicos em Petrópolis

A Sou Petrópolis resgatou a história de mulheres que ocuparam vagas na Câmara Municipal, candidatas à Prefeitura nas últimas eleições municipais, cargos ocupados por mulheres nas secretarias municipais do governo interino e buscou explicações sobre os motivos que afastam as mulheres da política.

As mulheres continuam sendo minorias ocupando cargos públicos em Petrópolis. Dos 20 nomeados pelo governo interino para ocupar as secretarias municipais apenas quatro são mulheres brancas. As outras 16 secretarias são lideradas por homens. Nas últimas cinco eleições municipais, apenas três mulheres disputaram a vaga para a Prefeitura, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Neste 8 de março de 2021, data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, vemos que a igualdade de gênero na política ainda está longe de se tornar uma realidade no município. E segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o número de mulheres na cidade é maior que o de homens. O censo de 2010 mostra que são 154.921 mulheres vivendo no município e 140.996 homens.

Hoje apenas uma mulher divide a Câmara de Petrópolis na tomada de decisões com 14 homens – Foto Divulgação Prefeitura de Petrópolis

Na Câmara de Vereadores, apenas quatro mulheres ocuparam cadeiras desde 1989. A primeira mulher vereadora foi Carmen Felicetti que, atualmente, tem 80 anos. Também passaram pelo legislativo: Wilma Borsato (1993 a 1996), Renata Fadel (2001 a 2004) e Gilda Beatriz, que foi eleita pela primeira vez em 2012.

Mulheres que ocuparam vagas na Câmara Municipal antes da vereadora Gilda Beatriz – Foto: Divulgação Ascom CMP

Nos pleitos de 2004 e 2008, Gilda foi candidata, mas ficou como suplente. Em 2016, chegou a ser a vereadora mais votada. E em 2020, ficou com a 2ª posição entre os vereadores que mais receberam votos. Gilda foi a primeira mulher reeleita na história da Câmara de Petrópolis. E desde 2012 divide a plenária ao lado de 14 homens.

“Ainda há muito machismo e preconceito. Muitas vezes se eu não impor meu limite vão tentar ultrapassá-lo, o que não fazem com os homens. Observo nitidamente que o enfrentamento quando é entre homens é de uma maneira e com a mulher de outra. O que eles fazem com a gente não fazem com os homens”, disse Gilda Beatriz.

Gilda é psicóloga e especialista em educação inclusiva e diz que a posição que ocupa é um desafio diário. “A sensação que tenho é que sempre preciso trabalhar o dobro [do que um homem] para ‘provar’ que posso. É difícil estar ali. E nunca tive apoio quando tentei cargos maiores, como a presidência da Câmara, por exemplo. Homens votam em homens”, afirma.

Vereadora Gilda Beatriz está no seu terceiro mandato consecutivo e divide a plenária com 14 homens – Foto: Arquivo Pessoal Gilda Beatriz

Para Gilda, o momento atual é de estimular cada vez mais as mulheres a participarem da política para que seja mais justa e equilibrada e apesar dos desafios, ela acredita que, aos poucos, essa cultura onde só o homem se beneficia vem mudando. Prova disso foi a votação expressiva que Coletiva Feminista Popular recebeu nas eleições de 2020.

“Tenho certeza que daqui a pouco vamos ter mais mulheres na Câmara. A gente tá quebrando paradigmas. Acho que é questão de tempo para mudar essa realidade – mais homens que mulheres na política – na cidade. A gente é que está fazendo a mudança e isso é legal e nos impulsiona a acreditarmos nos nossos sonhos e não desistirmos por sermos mulheres”, afirma Gilda.

E como mudar a história?

Em 2020, Petrópolis começou a mudar essa história de uma forma, digamos, mais incisiva. Pela primeira vez, quatro mulheres se juntaram para fazer a diferença. E fizeram.

Thaís, Maiara, Julia e Cris se candidataram pelo PSOL e o que parecia apenas uma tentativa de marcar o território feminino na política municipal ganhou ainda mais força com a expressiva votação recebida pela Coletiva Feminista Popular do PSOL. Foram 2.561 votos. Elas ocuparam a 5ª posição entre os vereadores mais votados, porém não foram eleitas por questões de legenda. Estão como suplentes.

Cris, Thaís, Maiara e Júlia conseguiram votação expressiva na disputa ao cargo de vereador com a Coletiva Feminista Popular – Foto: Divulgação Coletiva Feminista Popular

Julia Cassamasso, nome que foi para as urnas, é professora petropolitana e mãe. Ela contou que a coletiva surgiu a partir da construção setorial de mulheres do partido. “Entendemos que política não se faz sozinha. É um processo feito por muitas pessoas e a Coletiva optou por mostrar esse processo desde a campanha. Além disso, somos mulheres trabalhadoras e unidas somos mais fortes para enfrentar a realidade, que é estruturada para nos excluir dos espaços, por diversas formas”, disse.

Para Julia, a votação expressiva nas urnas tem explicação. “É um reflexo da esperança política que conseguimos despertar nas pessoas e que agora seguimos construindo. A política está muito além do período eleitoral”, garante.

A professora afirma ainda que alguns fatores foram levados em conta como o fato de a trajetória das mulheres que fazem parte da coletiva ser como a da maioria das mulheres da cidade. “Enfrentamos diariamente as dificuldades das trabalhadoras. E também tivemos a coragem de falar dos problemas de quem vive Petrópolis além do Centro Histórico. Resgatamos a memória negra, operária e das mulheres, cujo apagamento ajuda a manter os investimentos públicos apenas no centro e nas rotas turísticas do município. Nossas propostas firmaram compromisso de luta pelos interesses da classe trabalhadora”, contou Julia.

Primeira mulher vereadora

Carmen Felicetti foi candidata pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e eleita a vereadora em 1989. Ela contou que assumiu o cargo aos 50 anos e dividia a rotina de vereadora com o fato de ser mãe de três filhos e com a faculdade de Direito que cursava à noite. Atualmente, aos 80 anos, ela lembra detalhes daquele período.

“Sempre fui ligada à política, atuante, envolvida com os movimentos, com muito interesse e entusiasmo por tudo que envolvesse a população e a cidade. E ser eleita foi um fato inédito. Até então nenhuma mulher tinha despontado na política municipal. Fui líder do governo, da bancada e da maioria durante os quatro anos”, contou.

Carmen Felicetti foi a primeira mulher vereadora na história de Petrópolis. Ela foi eleita em 1989. Atualmente, está com 80 anos e é membro da Academia Petropolitana de Letras. Foto:Arquivo Pessoal Carmen Felicetti

Carmen acredita que ainda hoje – 32 anos depois – é preciso que as mulheres se empoderem mais. “Existe uma questão cultural da mulher acreditar que não tem aptidão para criar lei ou dirigir algo. Fomos criadas muito na submissão. E mesmo com todo o progresso, século 21, e ainda temos essa percepção longínqua de submissão”, lamenta.

Além de ocupar a cadeira do legislativo, Carmen também foi Secretária de Educação e Extraordinária de Gabinete nos primeiros anos do governo Sérgio Fadel  (1993). Ela acredita que a sociedade precisa de mais expressividade feminina.

“Na Câmara, por exemplo, é que se fazem as leis, se discutem os problemas da cidade. E aí é necessário ter uma visão dupla: pontos de vista masculinos e femininos. A possibilidade de mudar a realidade local é maior quando se ocupa um local de poder”, destacou.

Candidatas à Prefeitura

A história recente das eleições municipais mostra que a concorrência pela vaga no executivo é praticamente entre homens desde, pelo menos, 2004, conforme mostram dados do TSE. Nas eleições municipais de 2004 apenas uma mulher se candidatou à prefeitura – Renata Fadel, pelo PDT – ao lado de outros seis candidatos homens.

Em 2008, a história se repete. De novo apenas uma mulher candidata: Ester Mendonça pelo PSOL. Ela disputou o cargo com quatro homens.

E a situação com relação à representatividade feminina piorou nas duas eleições municipais seguintes: de 2012 e 2016. Apenas homens se candidataram à Prefeitura.

Já em 2020, dos 13 candidatos, uma mulher: Professora Lívia Miranda do Partido Comunista do Brasil (PC do B). E ela teve 3,48% dos votos. “Penso que precisamos de mulheres pautando as  políticas de mulheres, é preciso uma secretaria municipal da mulher para que as ações sejam planejadas, acompanhadas e tenham continuidade. Precisamos de muitas mulheres progressistas na política, porque a nossa certeza é que uma sociedade avançada só se faz com mulheres emancipadas em todas as áreas”, disse Lívia em entrevista à Sou Petrópolis.

Livia Miranda foi a única mulher candidata à prefeitura nas eleições de 2020 – Foto Arquivo Pessoal

A professora afirma ainda que é necessário falar de política para as mulheres além do dia 8 de março. Atualmente, ela participa da União Brasileira de Mulheres (UBM) que integra o Coletivo 8M, que busca colocar o assunto sempre em pauta nesta data. “No entanto, esse desafio não é exclusivo das mulheres, os homens precisam se conscientizar do seu papel de apoio nessa caminhada”, diz.

Lívia também comentou sobre este fato de Petrópolis ter tido poucas mulheres candidatas à prefeitura em sua história e nunca ter elegido uma mulher. Na visão da professora, isso é reflexo da  sociedade que é muito machista.

“Olham para a mulher na política e não acreditam que ela é capaz. Por mais formação que se tenha, inclusive muito melhor que a de muitos homens, ainda existe uma dúvida sobre a capacidade dela ser uma administradora pública. No entanto, a realidade prova o contrário e para citar um exemplo, basta olhar os países que melhor enfrentaram a pandemia – são chefiados por mulheres”, afirma.

Além da sociedade machista, Lívia observa outros desafios que afastam as mulheres da política, como a sobrecarga do trabalho dentro e fora de casa. “Ainda nesse século 21 vivemos dilemas de tempos passados em que à mulher é atribuído a tarefa do cuidado dos filhos, da família. Sendo que para as mulheres pobres e negras essa situação é agravada pelo cuidado das famílias dos patrões. Ou seja, o machismo precisa estar na pauta do dia, assim como as relações de trabalho que são sempre piores para as mulheres, sobretudo para as mulheres negras”, conclui.

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