Autora petropolitana diz que sociedade atual carrega crenças do passado onde mulheres eram vistas como ‘inferiores’
Neste Dia Internacional da Mulher, Daniela Brum, que escreveu o livro “Feminismo para quem?”, diz que o caminho em busca de espaço e direitos ainda tende a ser longo e árduo para as mulheres e que a mudança deve começar pela educação infantil.
Pode até parecer que você já leu/ouviu isso em algum lugar se dissermos que: estamos no século 21 e ainda há machismo, preconceito contra as mulheres e privilégios para os homens em diversas esferas, inclusive no mercado de trabalho. Mas, sempre é válido lembrar que as mulheres podem e devem ter os mesmos direitos que os homens. Este é inclusive um tema prioritário que está em pauta em todo o mundo. Só que a realidade não muda da noite para o dia. Por isso, é preciso conquistar uma batalha por vez.
Foto Arquivo Pessoal Daniela Brum
Neste Dia Internacional da Mulher (8), Daniela Brum, autora petropolitana do livro “Feminismo para quem?” e idealizadora da página “Feminismo”, que reúne mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, lembra que o caminho que as mulheres precisam percorrer em busca de seu espaço e seus direitos ainda tende a ser longo e árduo.
Isso porque, segundo ela, o país ainda carrega em sua história crenças antigas onde tanto mulheres quanto o povo negro eram vistos como inferiores, inclusive nas leis. “Isso é algo que reflete diretamente nos nossos direitos e na forma preconceituosa que somos tratadas até hoje”, explica.
O tema é tratado na série “Coisa mais Linda” da Netflix. Lançada em 2019, ela se passa na década de 1950. Em foco, a beleza do Rio de Janeiro e a serenidade do jazz. No pano de fundo, o machismo, a violência doméstica, o preconceito contra raça, gênero e cor, que se destacam em cada episódio durante as duas temporadas.
Como avançar?
Para Daniela, em pleno 2021 estarmos debatendo sobre segurança para as mulheres e meninas, por exemplo, é um agravante, porque o país já poderia estar avançando para outras pautas.
“Ao mesmo tempo que o mundo debate sobre os direitos das mulheres, a violência de gênero ainda aparece constantemente nos noticiários, inclusive em Petrópolis”, afirma.
A autora defende que o foco já deveria ser sobre políticas públicas de saúde, educação e trabalho.“Mas como avançar se muitas de nós ainda são violentadas dentro de suas casas ou saem para trabalhar com medo de assédio ou abuso? Como falar em emancipação das mulheres, se nem a volta do trabalho é 100% segura?”, questiona.
Luz no fim do túnel
Mesmo que ainda caminhando em passos de formiga, a mudança política em Petrópolis começa a dar o ar da graça – ainda tímido – após a votação expressiva da Coletiva Feminista Popular em 2020. Um grupo de quatro mulheres se candidatou pelo PSOL e ocupou a quinta posição entre os vereadores mais votados.
Thais, Maiara, Cris e Julia não ocuparam a vaga por questões de legenda, mas já fizeram história nas eleições municipais levando para o centro do debate as necessidades que vão além das demandas do Centro Histórico.
“Isso mostra que a nossa cidade parece estar um pouco mais aberta a ouvir sobre o feminismo e as pautas das mulheres. Quando falamos sobre feminismo, muitas pessoas enxergam como um movimento que não gosta dos homens, mas isso não é verdade, quem de fato é comprometido com a luta feminista, a enxerga como uma busca pela emancipação feminina, compreendendo que a luta pelos trabalhadores e seus direitos, deve incluir, também, as mulheres e pessoas negras, pois muitas demandas ainda não avançaram por conta do nosso passado”, comenta Daniela.
Mudança começa na educação infantil
Ter políticos preocupados com pautas femininas também pode fazer toda a diferença para a sociedade na visão da autora. Ela acredita que as pautas das mulheres não podem mais ser vistas apenas como forma de autopromoção e que as pequenas ações começam pela educação das crianças, pois elas são o futuro.
E neste contexto, vale destacar o respeito pela infância, a não reprodução de discursos violentos, a educação sexual. “Tudo isso é muito importante para que essas crianças se tornem adultos respeitosos”, reforça a autora.
Porém, ao mesmo tempo em que enxerga esse trabalho individual como algo importante, Daniela também chama atenção para o fato de que é preciso compreender que os avanços só acontecem pensando de forma coletiva.
Ou seja, fazendo com que os governantes mudem as leis, lutem e façam com que o estado ofereça educação, saúde, trabalho, moradia – direitos básicos e com qualidade, para que as pessoas tenham uma vida digna e proporcionem isso para os seus filhos.