Petrópolis é pioneira no Brasil em projeto promissor de detecção de câncer e Covid-19 com cães

Muita gente não sabe, mas Petrópolis foi a cidade escolhida pelo Institut Curie, na França, para introduzir no Brasil o método KDOG de detecção de câncer através de cães farejadores. Com o surgimento da pandemia, viu-se que o procedimento também podia ser usado — com algumas adaptações — para a detecção da Covid-19. Apesar de promissor, o projeto está dependendo do apoio público e privado para ser implementado na cidade e contribuir com o diagnóstico precoce dessas doenças no SUS, de forma segura e barata.

Foto Reprodução Internet

A equipe formada para esse projeto em Petrópolis é pequena, mas a vontade de fazê-lo acontecer é enorme. Além do responsável técnico e operacional da Guarda Municipal, Leandro Lopes, participam da incitava os oncologistas Christian Domenge e Carla Ismael, a coordenadora Roberta Lopes e Antony Araujo, responsável pelo suporte administrativo e jurídico do projeto.

Para conhecer a fundo o método KDOG, a equipe fez um trabalho de imersão em 2019 no Institut Curie, centro anticanceroso de Paris. Na bagagem, eles trouxeram muitos aprendizados sobre esse procedimento que tem tudo para revolucionar a forma de detecção de câncer e outras doenças no Brasil.

Mas como funciona?

Diferente de outras técnicas já realizadas nos EUA e países europeus, que colocam o cachorro em contato com o paciente, no protocolo KDOD não existe o contato direto entre o cão e a pessoa que vai passar pelo teste. A intenção é usar a capacidade olfativa do cão para que ele consiga detectar as células cancerígenas através do odor que elas exalam – que é diferente das células saudáveis.

A coleta da amostra do exame é feita através de uma gaze, que deve ser colocada sob as mamas durante algumas horas, e através dessa gaze que o cão faz a detecção.

“As células com câncer produzem um odor que é diferente de uma célula saudável. E o cão tem uma capacidade olfativa muitas vezes maior que a do humano. Por isso, ele consegue identificar o câncer até mesmo em estágios ainda mais iniciais antes mesmo do que qualquer outro exame”, explica Roberta Lopes.

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O processo de detecção de coronavírus também ocorre pelo suor do paciente, mas vale destacar que, embora já comprovado que cães não podem ser infectados pela Covid-19, eles não têm nenhum contato com o vírus ativo.

“Não é que o vírus tenha um odor particular, mas a reação que o corpo de uma pessoa tem à infecção pode ser percebida”, disse o veterinário Fernando Madrones, da Universidade Católica do Chile, a um jornal local.

Os cães têm em média 220 milhões de receptores olfativos no nariz, o que lhes permite detectar alterações mínimas nas substâncias – Foto: EAP

Países europeus, como a Finlândia, já têm usado a detecção precoce de Covid-19 por meio dos cães em aeroportos e barreiras sanitárias.

Quais as vantagens?

Além de barato e eficaz, o método é 100% seguro, tanto para o paciente como para os cães, que são treinados através da estratégia de recompensa. Esse treinamento, feito pelo cinotécnico Leandro Lopes, tem o objetivo de motivar o cão a ir em busca do cheiro característico de pessoas contaminadas em troca de brincadeira e diversão.

“Esse projeto não requer uma grande estrutura para comportar o laboratório necessário para esse treinamento. Seria uma forma diminuir o custo e o trabalho para detectar o câncer, com uma infraestrutura muito menor e que vai ajudar a aumentar a taxa de cura da doença”, comenta Carla Ismael.

Foto Arquivo Pessoal Leandro Lopes

O vice-presidente da Sociedade Franco Brasileiro de Oncologia, Christian Domenge, ainda destaca que o procedimento, além de acelerar a fila de espera no SUS pela mamografia, não é desconfortável para a mulher.

“No Brasil, a recomendação é que mulheres a partir de 40 anos façam a mamografia uma vez a cada dois anos. Ou seja, elas são submetidas a radiação com certa frequência, o que pode trazer outros problemas de saúde. Além disso, o exame não é nada agradável, traz incômodos para elas”, conta Christian Domenge.

Mas vale lembrar que a detecção de câncer ou de Covid-19 não eliminam outros exames confirmatórios. Ou seja, caso o cão comprove a presença de tumor ou coronavírus, o paciente é submetido a um segundo teste, acelerando o processo do diagnóstico.

Exame tem quase 100% de eficácia

Dentre as inúmeras vantagens do exame através da biodetecção, a eficácia nos resultados surpreendeu todos os médicos e cientistas. Com a capacidade de sentir mil vezes mais os cheiros do que os humanos, uma pesquisa mostrou que o método tem 100% de eficácia na detecção de câncer de mama, num teste realizado com 130 pacientes voluntárias no feita no Instituto Curie.

A mesma taxa de assertividade se aplica à detecção de Covid-19 por meio de cães farejadores. Felipe Valencia, médico veterinário colombiano e especialista em adestramento de cães, diz que a habilidade dos cães pode torná-los muito confiáveis ​​nesses casos.

“Os cães usam 40% do cérebro para processar o que cheiram, por isso podem se tornar uma excelente ferramenta para combater essas doenças”, explica Felipe Valencia, médico veterinário colombiano e especialista em adestramento de cães.

Projeto precisa de apoio para avançar na cidade e no Brasil

Ainda que comprovada sua eficácia e todas as vantagens citadas, colocar o projeto da detecção de câncer e Covid-19 em prática depende de apoio financeiro do poder público e privado.

Em Petrópolis, a proposta, que já vem sendo trabalhada e aprimorada há mais de 2 anos, tem o apoio da Guarda Civil Municipal, de médicos oncologistas, médicos veterinários e protetores de animais.

O cão escolhido para iniciar os treinamentos de biodetecção em Petrópolis é Ônix, um Pastor Alemão. De acordo com o cinotécnico Leandro Lopes, essa raça já vem sendo usada no canil da Guarda Civil Municipal para a detecção de drogas e entorpecentes.

Para saber mais sobre esse projeto e como apoiar, basta entrar em contato através do email: lladestramento@outlook.com

Ônix, um Pastor Alemão que vem sendo treinado para a detecção de câncer e Covid-19 – Foto Arquivo Pessoal Leandro Lopes