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Conheça a petropolitana que jogou pela Seleção Brasileira de futebol feminino

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Conheça a petropolitana que jogou pela Seleção Brasileira de futebol feminino

Saiba quem começou a apoiar o esporte em Petrópolis e como anda o incentivo nos dias de hoje.

Oportunidade. Essa foi a palavra-chave para Fernanda Stülpen, de 35 anos, sair de Petrópolis e ir jogar pela seleção brasileira de futebol feminino, em 2002. Nessa época, Marta era só uma menina habilidosa do Vasco e a grande mídia nem imaginava transmitir uma Copa do Mundo que não fosse masculina. No meio de tantos talentos e incertezas, a goleira petropolitana que nunca havia sonhado em jogar pela seleção canarinho foi ‘descoberta’. 

À esquerda, Marta (camisa 10), a goleira Fernanda (camisa 12) e Cristiane segurando o troféu do título sul-americano de 2002. / Foto: Arquivo Pessoal Fernanda Stülpen

Ela jogava no Esporte Clube Internacional, em Petrópolis, quando de um dia para o outro se viu viajando para disputar o Campeonato Brasileiro contra grandes times do país, devido a eliminação do Vasco da Gama na competição. Apesar das derrotas do time, Fernanda se destacou e logo surgiu a especulação de que ela pudesse ser convocada para a seleção brasileira. Na época, ela estava com 17 anos e já tinha na veia a paixão pelo esporte. “Cheguei a fazer futebol, vôlei e jíu-jitsu ao mesmo tempo, mas minha família nunca apoiou muito que eu fosse jogadora de futebol. Eles diziam: ‘isso é esporte de menino’. Eles incentivavam mais que eu fosse jogadora de vôlei”, ela conta.

Mas quis o destino que ela vestisse a ‘amarelinha’ ao lado de grandes jogadoras, como Cristiane, Marta — eleita 6 vezes melhor do mundo pela FIFA — e Formiga. Para chegar preparada para a seleção, Fernanda e seu treinador Marcelo Koy fizeram um trabalho intenso de treinamento antes mesmo da convocação, que não demorou muito para acontecer. Em 2002, a atleta petropolitana já estava no Peru disputando o Sul-Americano Sub-19. Após a medalha de ouro no campeonato, ela foi jogar em São Paulo, pelo São Bernardo, até ser surpreendida mais uma vez, agora com a convocação mais esperada para a seleção principal, em 2004.

Fogo amistoso em Mato Grosso, antes do Mundial. Fernanda é a primeira em pé da direita para a esquerda./ Foto: Arquivo Pessoal Fernanda Stülpen

Além da Copa do Mundo, que levou Fernanda até o Canadá, ela conta que o futebol lhe deu muitas oportunidades de viajar, como para a Alemanha e para a França, quando disputou os Jogos Mundiais Militares. Hoje ela é formada em Educação Física e trabalha e mora no Rio de Janeiro. O futebol ficou para trás, apesar de ter aberto muitas portas e trazido muitos aprendizados. Agora ela só torce pelas ex-companheiras da Granja Comary e aconselha às petropolitanas que sonham em ser jogadoras a correrem atrás de seus objetivos. “Corra atrás, mas corra certo. Se você quiser muito mesmo isso, infelizmente, saia de Petrópolis, porque aqui não tem um campeonato expressivo que você possa se destacar. Você precisa ser vista”, ela lembra.

O futebol feminino em Petrópolis e como tudo começou

Ao conversar com jogadoras das antigas de Petrópolis, constatou-se dois fatos. O primeiro é que o incentivo ao futebol feminino sempre partiu das próprias atletas ou de quem gostava do esporte. O segundo é que houve uma pessoa que foi essencial em toda essa história: Cléia Lopes, de 77 anos, mais conhecida como tia Cléia. “Tudo que era fora de campo era com ela, desde arranjar o uniforme até a inscrição para os campeonatos. Ela conseguia ônibus, patrocínio, fazia almoço dançante para arrecadar dinheiro e por aí vai”, relembra a ex-atacante do Internacional Débora do Amaral, de 35 anos.

À direita, tia Cléia e o time feminino do Corrêas. / Foto: Arquivo Pessoal Rosilene de Souza

Mais do que ficar com toda a parte de organização, tia Cléia tinha um carinho muito grande pelas meninas. “Eu via no esporte uma possibilidade delas seguirem o caminho do bem. Então fazia de tudo por elas, inclusive estourar o cartão do meu marido”, ela brinca. “Tenho seis atletas de Petrópolis, que começaram comigo, e hoje estão muito bem jogando nos Estados Unidos. Por isso digo que apesar de ter gasto um dinheiro que não tinha, foi muito bem gasto”, conta tia Cléia.

Para Débora, que já passou por diversos testes, clubes e campeonatos, o apoio ao futebol feminino, tanto nacional como da cidade, segue, lentamente, em evolução. “Hoje você tem um Campeonato Brasileiro feminino, alguns times na mídia, mas comparando com outros países, como Estados Unidos, ainda estamos muito atrás”, ela comenta.

Além dos torneios apoiados pela prefeitura, o incentivo ao futebol feminino em Petrópolis continua partindo de quem ama o esporte, como é o caso do time feminino Guerreiras, do Coronel Veiga F.C, que foi ‘adotado’ pelo treinador Fábio Barbosa. Há 4 anos ele comanda a equipe e não mede esforços para ver a evolução das meninas. “Muita gente acha que estou perdendo tempo, mas essas pessoas nunca vão saber o quão prazeroso é o convívio não só com as atletas da equipe Guerreiras, mas com todas as meninas que de alguma forma praticam futebol”, ele conta

Foto Divulgação

O sonho de ser jogadora 

E se o caminho para se tornar um jogador profissional no Brasil é longo para os meninos, para as meninas é maior ainda. Mas desistir não faz parte do vocabulário da petropolitana Ana Júlia Esteves, de 19 anos, que sonha em ser jogadora de futebol. Desde os 4 anos de idade ela tem intimidade com a bola e nem mesmo os comentários preconceituosos fizeram a atleta desanimar. “Sofri e sofro até hoje, não só por pessoas da rua como dentro de casa também, embora agora esteja mais tranquilo. Sempre tem aquelas piadinhas de ‘mulher macho’, ‘maria sapatão'”, ela conta.

Foto: Arquivo Pessoal Ana Júlia Esteves

Assim como Ana Júlia, várias outras petropolitanas sonham em ser jogadoras profissionais. E mais do que isso: em serem respeitadas e receberem o apoio que elas merecem.

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