Entenda todos os lados da polêmica das charretes em Petrópolis e saiba como votar no plebiscito
Veja o que pensam os charreteiros, os protetores dos animais, os historiadores e os presidentes das chapas 1 e 2.
A permanência ou não das tradicionais vitórias, as famosas charretes de Petrópolis, sempre dividiu muitas opiniões entre os que defendem os animais, a tradição histórica, o turismo e o trabalho dos charreteiros. No dia 7 de outubro, durante a votação do 1º turno das eleições deste ano, a população poderá, enfim, decidir o futuro do uso de cavalos na tração das charretes através do plebiscito convocado pela Câmara de Vereadores da cidade. O vereador Meireles, autor do projeto, acredita que essa é a forma mais democrática de decidir sobre essa atividade, que é motivo de polêmica.
Foto Henry Kappaun
Pensando em clarear a mente da população na hora de votar, perguntamos a opinião de oito pessoas envolvidas no assunto para entender quais as consequências do resultado do plebiscito para a cidade, para os animais e para os charreteiros. Confira!
Fátima Argon, presidente do Instituto Histórico de Petrópolis (IHP)
“Desde 1938, o Instituto Histórico de Petrópolis luta pela cidade de Petrópolis. Alguns podem pensar que lutamos pelo passado, mas o que fazemos dia a dia, durante esses 80 anos de existência, é lutar pela cidade, impedir que destruam tudo aquilo que nos caracteriza e nos diferencia dos outros lugares. Ou seja, lutamos pelo presente, o que significa necessariamente lutar para preservar a nossa história e memória. Defendemos a continuação das charretes porque elas constituem uma herança cultural e histórica que nos remete ao período em que a cidade era local de veraneio da família imperial e da corte. Desde a década de 40 do século passado as charretes proporcionam ao turista a experiência do transporte utilizado no século XIX. Porém, consideramos o cuidado com os animais, a qualificação dos profissionais envolvidos na atividade, bem como a adequada manutenção dos veículos, tudo sob a égide da fiscalização pública”.
Dra. Renata Castro, da Veterinária Animalle
“A questão não é simplesmente sermos contra ou a favor da permanência das charretes (vitórias) em nossa cidade, mas sim, sermos contra o sacrifício de animais em nome da manutenção de uma tradição que já não se adequa mais à nossa realidade por turistas que muitas vezes não fazem ideia do que se passa. Os animais são expostos a situações extremas de estresse sem a alimentação necessária e um local adequado para repouso, sendo levados em meio ao trânsito caótico da cidade, correndo riscos de provocarem um acidente e até mesmo de se ferirem. Portanto, com a consciência de profissional, de quem zela pelo bem estar dos animais e por todo o sofrimento causado a eles, por esta atividade desumana e desnecessária, nos posicionamos totalmente contra a permanência das charretes em passeios turísticos na nossa cidade”.
Charreteiros
João Ricardo de Oliveira, há 15 anos trabalhando como charreteiro: “Nosso trabalho é fundamental para o turismo na cidade e a gente depende dele para sustentar nossas famílias, minha renda vem toda daqui. Fora isso, a prefeitura não se posicionou para onde nós vamos se acabarem com as charretes. Há quase um ano fizeram uma reunião com a gente para falar da substituição dos animais por charretes elétricas e depois disso não falaram mais nada. Não sabemos para onde nós vamos, nem os animais”.
Victor Raposo Borges, terceira geração da família de charreteiros: “Os cavalos fazem exame de sangue de dois em dois meses e vão à veterinária de três em três meses. E tudo isso sai do nosso bolso, a prefeitura não ajuda em nada. O que nos prejudica muito são as pessoas confundirem as imagens que veem na internet de animais sendo maltratados na Baixada e acharem que é aqui. Os nossos cavalos são todos microchipados e se alguma coisa de ruim estiver acontecendo, a fiscalização vem aqui”.
Carlos Pitzer, há 34 anos trabalhando como charreteiro: “O animal nasceu para trabalhar. Se ele ficar parado ele fica doente. E eles têm o tempo deles descansarem também. Nós não podemos viver de promessas. Eu quero saber se acabarem com as vitórias para onde os cavalos vão e se eles vão ser bem tratados igual fazemos aqui”.
Os charreteiros garantem que os animais são bem tratados e recebem atendimento especializado de três em três meses / Fotos Arquivos Sou Petrópolis
Ana Cristina Carvalho Ribeiro, protetora dos animais e presidente da AnimaVida
“Não sou contra nem a favor das charretes. Sou a favor dos cavalos. Acompanho de perto a atividade há 11 anos e sei de todos os benefícios que os animais dispõem hoje. Como, até agora, ninguém esclareceu como farão para ‘libertar’ os animais, acreditamos que eles não podem e não devem perder o que possuem hoje. Os direitos adquiridos pelos cavalos das charretes são: regulamentação da atividade com limite da jornada de trabalho, limite de carga, vistoria veterinária a cada 4 meses, vacinação e vermifugação periódica, são todos microchipados, ou seja, qualquer irregularidade cometida contra eles poderá ser comprovada e o responsável devidamente punido. Eles têm alimentação regular e abrigo.
Estou na proteção animal há 25 anos e não conheço nenhum local que tenha condições financeiras de receber os cavalos mantendo todos os benefícios que eles têm hoje. Estão usando os animais para interesses políticos. Muita gente quer ganhar vantagens com o fim da atividade, mas preocupação com os cavalos somente existe nos discursos. Já estão discutindo isso há 3 anos e nesse tempo não procuraram, nem apresentaram nenhuma solução válida e digna para os animais”.
Wanderley Taboada (PTB), vereador presidente da chapa a favor da tração animal (chapa 1)
“Sou contra os maus-tratos com os animais, mas é por esse motivo que tem fiscalização, é uma responsabilidade da prefeitura. É importante dizer que os animais são bem tratados e falar que o encerramento da atividade é quebrar uma tradição que vem do período Imperial. Tanto no Rio de Janeiro como em outras cidades há pessoas que vêm para Petrópolis pelo passeio de charretes no Centro Histórico da cidade. Fora isso, eu avalio a perda de muitos empregos e é necessária uma análise ampla. Além dos charreiteiros, tem as pessoas responsáveis pela alimentação, capim, os responsáveis pela saúde dos animais. São famílias inteiras que dependem da atividade, vai muito além das charretes” (em entrevista ao Diário de Petrópolis; matéria publicada no dia 22 de julho de 2018).
Gilda Beatriz (MDB), vereadora presidente da chapa contra a tração animal (chapa 2)
“Muitos cavalos estão alojados em locais distantes do Centro Histórico, prejudicando-os e obrigando-os a andar cerca de até 10 km para chegar ao Museu e encarar um dia inteiro de trabalho, sob o forte sol e calor do verão ou o sob a neblina e frio típicos do nosso inverno. Depois de um dia exaustivo, o mesmo longo trajeto para voltar para o alojamento. Muitas outras irregularidades envolvem o uso de tração animal no turismo petropolitano, como: acidentes no trânsito (afinal, cavalos não devem disputar espaço com carros em ruas estreitas como as de Petrópolis); condução de passageiros acima da capacidade permitida (já recebi em meu gabinete diversas denúncias com relação a isso), sol forte a castigar os animais no verão, sem nenhuma sombra para se abrigarem, entre outros problemas que surgem no dia a dia. A minha luta pela causa animal é muito maior, porque busca a mudança no modo de pensar das pessoas quanto aos direitos dos animais, conscientizando-as de que essa mentalidade de que eles existem para nos servir é ultrapassada e egoísta”.
No final das contas, percebe-se que não basta só decidir o futuro das charretes através do voto popular. Esse é só o primeiro passo. Caso ganhe acabar com esse tipo de serviço, é preciso dar uma solução para onde vão os animais e como vai ficar a situação dos charreteiros desempregados. Por outro lado, caso vença a permanência das vitórias, é esperado mais apoio do poder público com os gastos para os cuidados dos cavalos e uma melhoria na vigilância desse serviço, uma vez que as charretes contribuem para o turismo e para a tradição histórica da cidade.
Como votar?
Se você é a favor da manutenção das vitórias, deverá votar no número 1. Se você é contra a permanência desse serviço na cidade, deverá votar no número 2.